São Paulo - O anúncio da presidente Dilma Rousseff de que manterá Carlos Lupi no Ministério do Trabalho inclui, nas entrelinhas, o recado de que, a partir de agora, o governo federal irá cobrar fidelidade plena do PDT, caso a sigla pretenda manter o seu espaço na Esplanada dos Ministérios. A avaliação é de cientistas políticos consultados pela reportagem, que dizem acreditar que o gesto de Dilma, em não convidar a sigla para reunião de líderes de quarta-feira, é uma mostra de como o Palácio do Planalto pode agir daqui para frente com as siglas da base aliada que se mostrarem infieis ao governo.
"O recado é de que só fica próximo das benesses do governo federal quem dança a música do Poder Executivo", disse o professor de Filosofia Política Roberto Romano, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Ela vai, a partir de agora, cobrar fidelidade de verdade do PDT", acrescentou o consultor da ONG Voto Consciente, Humberto Dantas.
Após reunião com Lupi na manhã de ontem, Dilma confirmou a permanência do ministro na equipe de governo e disse que eventuais problemas na base de apoio devem ser resolvidos na esfera partidária. A declaração ameniza a crise entre governo e PDT, que não foi convidado a participar da reunião com líderes da base aliada. "O PDT, desde que morreu Leonel Brizola, se tornou um partido sem muita orientação ideológica, ele corteja o poder", disse Romano. "O partido tem uma estrutura muito próxima do poder."
O professor da Unicamp não acredita também que Dilma queira romper com o PDT. "A qualquer momento pode ter uma votação no Congresso Nacional e o apoio do PDT é um contrapeso às ambições do PMDB", disse. "É uma acomodação de começo de viagem." Romano não avalia que as desavenças possam criar um racha no PDT, entre os grupos de Carlos Lupi e do sindicalista Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, um dos maiores críticos do salário mínimo de R$ 545. De acordo com o especialista, o presidente da Força Sindical é uma das únicas lideranças de representação nacional da legenda.