Durante reunião com 12 ministros e o vice-presidente Michel Temer, na tarde desta segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff responsabilizou a Operação Lava Jato por parte da queda do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Ao discorrer sobre as dificuldades econômicas que o país enfrenta, a presidente citou a operação da Polícia Federal, dizendo que esta provocou uma queda de um ponto percentual no PIB. O comentário, segundo um ministro que estava na reunião, ocorreu logo após uma longa explanação de Nelson Barbosa (Planejamento) sobre o cenário econômico e as perspectivas “sombrias” se as medidas do pacote de ajuste fiscal não forem aprovadas pelo Congresso.
Dilma pede que ministros evitem aprovação de ‘pautas-bomba’
Às vésperas do fim do recesso parlamentar, a presidente Dilma pediu a seus ministros que se empenhem para unir a base aliada e impeçam a aprovação de projetos que custem caro aos cofres públicos, as chamadas “pautas-bomba” do Congresso Nacional. Nas duas reuniões que fez com seus ministros, nesta segunda-feira (27), Dilma pediu que o governo amplie o diálogo com os parlamentares, inclusive com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que anunciou neste mês seu rompimento com o Palácio do Planalto.
Articulador político do governo, o vice-presidente Michel Temer disse que tem a certeza de que o Congresso avaliará as pautas “com muita adequação”. “Se forem onerosas para o país, certamente [os parlamentares] as rejeitarão”, disse ao deixar o encontro com a presidente.
Dilma deflagrou uma ofensiva para, entre outras medidas, aprovar a reforma do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e evitar a derrubada do veto presidencial ao reajuste do salário dos servidores do Judiciário. Aprovado pelo Senado em junho, o projeto dava um aumento médio de 59,5% aos servidores nos próximos quatro anos e, segundo cálculos do governo, causaria um impacto de R$ 25,7 bilhões ao Tesouro no mesmo período.
A presidente deve realizar na quinta-feira (30) uma reunião com todos os governadores do país e tentar dividir com eles a responsabilidade de evitar a aprovação das “pautas-bomba” no Congresso. Temer afirmou que os governadores serão “bons articuladores”, pois sabem que as medidas que aumentam gastos do governo federal têm impacto diretamente nos Estados. “Quando se tem aumentos na área federal, eles repercutem, pela chamada cascata, nos estados federados, de modo que eles [governadores] serão bons aliados no interesse da federação e dos estados”, disse o vice-presidente.
“Para vocês terem uma ideia”, começou a presidente, “a Lava Jato provocou uma queda de um ponto percentual no PIB brasileiro”. Dilma não deu detalhes do cálculo e, em seguida, emendou a necessidade de apoio da base aliada no Congresso aos projetos encaminhados pelo governo.
A presidente convocou a reunião para cobrar de ministros indicados pelos aliados que seus parlamentares votem a favor do governo, especialmente nas matérias econômicas. Dilma mostrou-se insatisfeita com o nível de infidelidade da base, que levou a seguidas derrotas na Câmara e no Senado no primeiro semestre. Dilma pediu “rapidez” e “responsabilidade” nas votações e determinou aos ministros que procurem os deputados e senadores de suas relações para influenciarem a favor do governo.
Dilma chamou ao seu gabinete o vice, Michel Temer, e 12 ministros: Eliseu Padilha, Kátia Abreu, Edinho Araújo e Hélder Barbalho, do PMDB; Gilberto Kassab e Afif Domingos, do PSD: Aloizio Mercadante e Nelson Barbosa, do PT; Aldo Rebelo, do PCdoB; Armando Monteiro, do PTB; George Hilton, do PRB; e Antonio Carlos Rodrigues, do PR. A presidente quer que este grupo “fidelize” os parlamentares que estão sendo parceiros e que busque reduzir ao máximo as dissidências nas bancadas.
“Foi uma reunião para dar um freio de arrumação nas relações com as bancadas. O recado aos ministros foi duro porque o governo não pode deixar a economia sair do controle. É preciso compromisso dos partidos aliados e que eles impeçam uma pauta bomba na Câmara e no Senado com medidas que aumentem as despesas”, disse uma fonte do governo.
Um levantamento feito no Palácio do Planalto, mostrando o índice de infidelidade por partido. O que mais traiu o governo na Câmara foi o PP e, no Senado, o PRB, em ambas as Casas, seguido pelo PDT. O PMDB, partido do vice, Michel Temer, e com sete ministros, traiu o Planalto em mais da metade das votações no Senado: 52,33%. Os deputados foram levemente mais fiéis. Opuseram-se em 43,88% das votações. Os ministros do PP, Gilberto Occhi (Integração Nacional), e do PDT, Manoel Dias (Trabalho), não compareceram, assim como Henrique Alves (Turismo) considerado no Palácio do Planalto muito próximo ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
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