Para Lula, CPI do Apagão Aéreo atrapalha Congresso
Após longa reunião nesta sexta-feira (13) com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Walfrido Mares Guia (Relações Institucionais), os líderes do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e na Câmara, José Múcio Monteiro (PTB-PE), saíram com a estratégia definida: o governo aguardará o Supremo Tribunal Federal (STF) se pronunciar sobre a instalação da CPI do Apagão Aéreo na Câmara e tentará abafar as intenções da oposição no Senado.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira, em reunião com líderes do governo, que a instalação da CPI do Apagão Aéreo vai atrapalhar as votações do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas fez questão de transferir toda a responsabilidade política para o Congresso. Os líderes vão trabalhar para evitar a instalação da CPI tanto na Câmara como no Senado, sob argumento de que nenhum chefe de Executivo quer uma investigação dessa natureza, citando exemplos de estados governados pelo PSDB.
- A posição da CPI é do Congresso. O governo não vai interferir nesse processo. O governo não quer CPI como qualquer governo não quer CPI, governo municipal, estadual e federal, mas o governo não vai interferir de nenhuma forma, não vai fazer nenhum tipo de manobra. Essa é uma atribuição do Congresso - disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
A posição do governo sobre a polêmica do aborto, questão que vem sendo debatida na Câmara Federal, será semelhante: de neutralidade.
- A posição é de neutralidade. Que o Congresso Nacional decida sobre o assunto - disse Jucá.
Os três líderes do governo, Jucá, o deputado José Múcio Monteiro (PTB-PE) e a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), ficaram quase quatro horas no Palácio do Planalto em reuniões com Lula e com o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia.
" Uma CPI é ruim, duas é pior, três é muito mais, quatro é muito mais. Qualquer chefe do Executivo não gosta de CPI "
- Uma CPI é ruim, duas é pior, três é muito mais, quatro é muito mais. Qualquer chefe do Executivo não gosta de CPI. O problema da CPI não é o foco, é o palanque. É por isso que em São Paulo o governo luta para não instalar. Procure saber se em Minas tem alguma, se no Rio Grande do Sul tem alguma. O Executivo sabe que CPI atrapalha - afirmou José Múcio.
Segundo Jucá, para o governo, politicamente é melhor não haver CPI nem na Câmara nem no Senado:
- O governo, querendo aprovar as matérias, politicamente, é melhor não ter. CPI é um instrumento de perturbação do processo de votação normal. É claro que uma CPI, da forma como é conduzida, atrapalha todas as votações no Congresso e contribui para complicar o clima reinante entre governo e oposição.
Segundo o Blog do Noblat, os líderes governistas agora defendem a instalação imediata da comissão na Câmara, sem esperar pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O objetivo é esvaziar uma possível CPI sobre o caos aéreo no Senado, onde a oposição é mais forte. Na noite desta quinta-feira, porém, PSDB e DEM anunciaram que já têm as assinaturas necessárias para pedir a comissão.
- Vamos conversar com a oposição para que a CPI funcione só na Câmara. CPI não se barra, se administra. Mas o Senado não tem clima e não vejo necessidade de termos uma CPI aqui - disse Jucá, que admitiu que está tendo trabalho para convencer a oposição.
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), avisou que o simples anúncio da CPI já mudou o quadro na Casa:
- Mostrou-se que o governo pode muito, mas não pode tudo - afirmou o tucano, que argumenta que uma CPI no Senado impede que o governo "passe o trator" na minoria da Câmara.
Virgílio admitiu, no entanto, que DEM e PSDB divergem em alguns pontos sobre o assunto:
- Eu vejo mais disposição no DEM para fazer as duas CPIs. Já no PSDB há setores que admitem só fazer a investigação na Câmara - disse.
O tucano anunciou também que, na próxima semana, assim que a oposição consolidar as assinaturas da CPI, os líderes dos dois partidos vão se reunir para planejar os próximos passos.