A quebra de sigilo fiscal da jornalista Claudia Cruz, mulher do presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), revela um crescimento patrimonial de 151% em seis anos, de 2008 a 2014. O patrimônio pulou de R$ 1,6 milhão para R$ 4,02 milhões. O valor é mais que o dobro do patrimônio do deputado, que em 2014 foi declarado em R$ 1,537 milhão. Em relatório anexado às investigações da Operação Lava Jato, os técnicos da Receita Federal afirmam que a jornalista usou artifícios para justificar o aumento de patrimonial, como recebimentos de pessoas físicas, o que na prática dificulta o rastreamento.
“Tudo leva a crer (logicamente dependendo do aprofundamento das investigações pelo MPF ou DPF) de que as investigadas utilizaram, em tese, como instrumento de lavagem de dinheiro a própria entrega de DIRPF [declaração de Imposto de Renda] para a Receita Federal, lançando valores no item de rendimentos recebidos de pessoas físicas (e de fato, na prática, regularmente, não há outra forma de fazê-lo para tributar espontaneamente alguma renda sem origem)”, diz o relatório.
Em 2008, a jornalista declarou ter recebido R$ 80 mil de pessoas físicas e comprou dois carros - um Porsche Cayenne S por R$ 310 mil e um Passat por R$ 77 mil. Para justificar o gasto, declarou ao Fisco ter contraído um empréstimo de R$ 250 mil de Oliveira Francisco da Silva. O valor não foi quitado até a declaração referente a 2015 e entregue à Receita. Francisco Silva, ex-deputado pelo Rio e dono de uma rádio, é uma espécie de padrinho político de Cunha.
Apenas em 2010, uma conta de Cláudia Cruz no Itaú movimentou cerca de R$ 2,5 milhões. Na declaração daquele ano, a jornalista informou ter recebido R$ 2,7 milhões em um processo trabalhista. Sofreu uma ação fiscal da Receita e acabou multada em R$ 149 mil por não ter considerado parcela de contribuição previdenciária. O caso ainda tramita na Receita. Em novembro do ano passado, Cláudia Cruz entregou uma declaração na qual retificava a de 2014, ano base 2013, incluindo mais dois bens que não tinham sido declarados - um BMW de R$ 115 mil e uma aplicação financeira no valor de R$ 188,6 mil.
O relatório da Receita também assinala que parte dos gastos da jornalista com cartões de crédito emitidos no Brasil - que superaram R$ 300 mil por ano de 2013 a 2015 - podem ter sido pagos por terceiros, já que não há registros de pagamentos nas suas contas bancárias.
“O patrimônio de Cláudia Cruz é justificado pelo valor que ela ganhou de indenização trabalhista. O restante ela adquiriu prestando serviços como freelancer de jornalismo e estamos buscando os comprovantes com o contador para anexar ao processo. Todos os valores serão justificados”, disse o advogado de Cláudia, Pierpaolo Bottini.
Bottini disse que os cartões de crédito da jornalista são pagos pelo marido, Eduardo Cunha, e que a retificação no Imposto de Renda é absolutamente normal e o objetivo foi corrigir um erro do contador.
“Não há qualquer ilicitude na entrega de uma retificação”, disse o advogado.
A Lava Jato quebrou o sigilo dos dados de Cláudia Cruz entre 2008 e 2016. O parecer jurídico afirma ainda que ela “omitiu a existências de bens e dinheiro fora do Brasil”. Os técnicos também acharam os mesmo indícios contra Eduardo Cunha, mas não foram detalhados. Também foram anexadas às investigações o relatório do Banco Central que reafirma que o casal não declarou recursos escondidos no exterior:
“A atitude arredia da Sra. Claudia Cordeiro Cruz revela desapreço e, até mesmo, singular menosprezo institucional ao Banco Central do Brasil”, afirma o documento.
Denúncia aceita por Moro
No início do mês, o juiz Sérgio Moro aceitou a denúncia da força-tarefa da Lava Jato contra Claudia Cruz. Ela é acusada de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. De acordo com os investigadores, há indícios de que parte da propina desviada da Petrobras abasteceu contas no exterior em nome de offshores e trusts usados para pagar cartões de crédito internacional utilizados por Cláudia Cruz.
Além dela, viraram réus o empresário português proprietário da CBH Idalécio de Castro Rodrigues de Oliveira, acusado de corrupção ativa e lavagem de dinheiro; o operador João Augusto Henriques, denunciado por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção passiva; e o ex-diretor a área internacional da estatal, Jorge Luiz Zelada, por corrupção passiva. Na decisão, Moro disse que Cláudia Cruz pode ter agido “por dolo eventual ou com cegueira deliberada”.
“A própria ocultação desses valores em conta secreta no exterior, por ela também não declarada, a aparente inconsistência dos gastos efetuados a partir da conta com os rendimentos lícitos do casal, aliada ao afirmado desinteresse dela em indagar a origem dos recursos, autorizam, pelo menos nessa fase preliminar de recebimento da denúncia, o reconhecimento de possível agir com dolo eventual ou com cegueira deliberada”, afirmou o juiz.
Para a força tarefa da Lava Jato, Cláudia tinha plena consciência dos crimes que praticava sendo a a única controladora da conta em nome da offshore Köpek, na Suíça, por meio da qual pagou despesas de cartão de crédito no exterior. Entre 2008 e 2014, ela gastou mais de US$ 1 milhão. O gasto, de acordo com a denúncia do MPF, “totalmente incompatível com os salários e o patrimônio lícito” dela e de Cunha. Quase a totalidade do dinheiro depositado na Köpek (99,7%) teve origem nas contas Triumph SP (US$ 1.050.000,00), Netherton (US$ 165 mil) e Orion SP (US$ 60 mil), todas pertencentes a Eduardo Cunha.
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