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Placas e peças para montagem de máquinas caça-níqueis, proibidas no Brasil, podem ser encontradas facilmente em São Paulo. Os equipamentos são contrabandeados para o país e vendidos em sites de leilão pela internet e até nas ruas da cidade.

Na Santa Efigênia, centro de comércio de produtos eletrônicos, é possível encomendar os itens direto no balcão de alguns estandes.

Para montar um caça-níquel é necessário um computador, um gabinete, placas específicas com o jogo gravado e noteiros, que recolhem o dinheiro e identificam notas falsas. A venda de peças para a montagem das máquinas não é regularizada no país. Já os caça-níqueis são proibidos no Brasil desde que foi promulgada a Medida Provisória 168 de 20 de fevereiro de 2004.

Os itens necessários para montar as máquinas são produzidos em países como a China e a Indonésia, importados pelo Paraguai e contrabandeados para o Brasil, onde são utilizadas em linhas de montagem. Na quinta-feira (19), a polícia fechou uma fábrica com 350 máquinas. Na segunda-feira (16), foram apreendidas cerca de 10 mil máquinas.

O G1 gravou conversas por telefone com pessoas que fizeram anúncios de peças. Em uma das conversas, um comerciante chegou a explicar que transporta o material do Paraguai até Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, e vende as peças pela internet. Para evitar suspeitas, os contrabandistas indicam conta em nome de esposas e filhos para receber o dinheiro. Bucaneiros

Os jogos têm nomes curiosos como "Halloween", "Bucaneiros", "Vaka Loka" e "Oro de México", algumas das mais populares. As imagens utilizadas nos jogos vão de caldeirões de bruxa a mulheres seminuas, passando por escudos de times de futebol.

As placas mais novas permitem que mais de um programa seja gravado no sistema, ou seja, o apostador pode escolher o tema para gastar seu dinheiro. São vendidos também sistemas de programação para as placas, conhecidos como matrizes, que permitem que o jogo seja "pirateado" e multiplica a oferta de equipamentos para a montagem dos caça-níqueis.

A venda é feita livremente na internet. Nesta sexta-feira (20), o site de leilões MercadoLivre, por exemplo, tinha mais de vinte anúncios de peças com anúncios e explicações sobre a montagem dos produtos e até de caça-níqueis inteiros já montados.

Procurados pelo G1, os representantes do MercadoLivre afirmaram que todos os anúncios seriam retirados e que o site "proíbe anúncios de produtos e serviços ilegais ou que firam a moral e os bons costumes e adota procedimentos de verificação e segurança para garantir a proteção às leis vigentes".

Mesmo assim, eles alegam que o site "não pode certificar a exclusão total e em tempo real de anúncios que firam suas regras diante à agilidade de eventuais internautas infratores".

Nas ruas, os contrabandistas são mais discretos. Na Rua Santa Efigênia, o G1 encontrou quatro comerciantes que prometeram providenciar todas as peças necessárias para a montagem das máquinas. Um deles alertou que, como a fiscalização da prática aumentou nos últimos dias, muitos que vendem estavam evitando clientes desconhecidos.

Os preços variam bastante, conforme as placas desejadas e a aparência da máquina. É possível montar um caça-níquel por menos de R$ 2 mil. A matriz

Até em creches

As máquinas caça-níqueis fazem jus ao nome. É possível alterar a programação dos equipamentos de modo a diminuir as chances de quem joga ganhar. Normalmente, metade do dinheiro fica retido e metade volta para os jogadores em prêmios aleatórios.

Um técnico de informática, porém, pode ajustar o sistema para aumentar o valor retido ou até acabar com os prêmios, o que, segundo o contrabandista ouvido pelo G1, não é bom negócio: os clientes deixariam de utilizar a máquina após algum tempo.

O vendedor diz que até em creches estão sendo instaladas máquinas e não demonstra preocupação com a fiscalização da polícia. Ao ser questionado sobre o tema, o contrabandista sugere que seja feito um acordo com as autoridades e explica que, no caso de operações de fiscalização, os donos das máquinas são avisados antes. "É só recolher antes da operação as peças que são mais caras, não tem erro", afirma.

Vício

A proliferação do jogo em São Paulo faz suas vítimas. De acordo com a associação Jogadores Anônimos o número de viciados em jogo em São Paulo é cada vez mais alto. Por mês, mais de 100 pessoas procuram a associação. Atualmente são 25 grupos de discussão que se reúnem regularmente na cidade.

Além dos Jogadores Anônimos, há também no estado a atuação do Jog-Anon, uma associação de parentes que é presidida pela esposa de um jogador compulsivo. Para preservar a identidade do marido, ela evita se identificar. "Não combatemos o jogo, a gente procura ajudar quem precisa de ajuda. Mas fico mais confortável em ver que os bingos estão sendo fechados e as máquinas retiradas. Dificulta o acesso. Não que resolva, quem busca vai achar, mas dificulta", diz.

"Hoje o impacto é muito grande pelo fácil acesso de pessoas que ganham muito pouco. Dá para jogar com muito pouco e o compulsivo joga tudo que ele tem. Facilita. Com centavos a pessoa consegue ir jogar. E é claro que nunca fica nos centavos", diz a mulher, que convive diariamente com parentes de jogadores compulsivos.

"A maquininha é um grande problema, tem as situações mais trágicas possíveis. Alguns pessoas começam a cometer atos ilícitos, a pessoa perde completamente o limite, começam a roubar para jogar", diz.

Além dos grupos de encontro, há também listas de discussão virtuais sobre o tema, em que as pessoas trocam experiências e conselhos. "Lembro do depoimento de um filho desesperado que dizia que a mãe tinha perdido completamente o controle por causa dos bingos. Eram dois filhos, um de uns seis anos, o outro de dezesseis e a mãe estava até deixando de abastecer a casa com alimentos, isso marcou muito.

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