Nelson Jobim, que deixou nesta quinta-feira o cargo de ministro da Defesa da presidente Dilma Rousseff, tem uma carreira bastante singular na política brasileira. Tanto por atuar com petistas e tucanos com a mesma desenvoltura como por ter ocupado cargos de alto escalão no Executivo, Legislativo e Judiciário. Mas o crescente gosto por declarações fortes e polêmicas acabaram custando a esse gaúcho de Santa Maria o cargo que ocupou por pouco mais de quatro anos. Os comentários mais recentes atingiram colegas de governo: as ministras as Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Mas a coleção de declarações polêmicas começou logo após assumir a Defesa. Em pleno caos aéreo depois de um acidente com um Airbus da TAM que matou 199 pessoas, Jobim colocou dentro de sua tarefa de debelar a crise no setor uma campanha por mais espaço para os passageiros nas aeronaves. "O espaço é anti-vital", chegou a afirmar o então ministro de quase dois metros de altura durante reunião com representantes de companhias aéreas em agosto de 2007. Com bom trânsito entre os militares, Jobim buscou por várias vezes agradar a tropa com frases fortes sobre soberania nacional e usou algumas vezes a farda militar ao visitar operações conjuntas das três Forças. "Quem cuida da Amazônia sul-americana para o bem de seus povos e dos povos do mundo somos nós", disse Jobim em abril deste ano a uma plateia formada principalmente por militares durante uma feira de defesa. "Não venham se meter neste assunto!" O ministro também lançou mão por várias vezes de declarações firmes para reiterar o papel do Ministério da Defesa como garantia de comando civil sobre as Forças Armadas. Em fevereiro do ano passado ele exonerou o então chefe do Departamento Geral de Pessoal do Exército, general Maynard Marques de Santa Rosa, após o militar criticar duramente o Plano Nacional de Direitos Humanos do governo federal. FHC e LULA Próximo dos ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) --que o indicou para a Defesa-- e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) --de quem foi ministro da Justiça-- e amigo pessoal do candidato derrotado por Dilma na eleição do ano passado, o tucano José Serra, não teve sua indicação para permanecer no ministério abraçada pelo PMDB, partido ao qual é filiado. Deputado federal pelo Rio Grande do Sul por duas vezes, teve papel destacado na Constituinte de 1988. Ministro do Supremo Tribunal Federal a partir de 1997, Jobim presidiu a Corte de 2004 até março de 2006, quando se antecipou sua aposentadoria. Na época, especulava-se que poderia ser candidato a vice na chapa à reeleição de Lula, o que acabou não acontecendo.
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