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Engana-se quem pensa que as medidas um tanto desesperadas enviadas pelo governo Beto Richa (PSDB) à Assembleia Legislativa tenham caráter ideológico. Sempre surge, em situações como essa, alguém falando que se trata de neoliberalismo ou que tudo tem a ver com o partido do governante que propõe as medidas. Pode até ser que alguém de outro partido, ou de outra ideologia, se recusasse a tomar alguma das medidas que Richa propõe – embora esteja cada vez mais difícil acreditar nisso.

O motivo que levou o governo a apresentar as propostas, porém, não é ideológico – o que se está tentando não é implantar uma nova forma de governo, mas sim salvar a pele da atual gestão. Não se trata de ideias, mas de uma tentativa de correção de rumo surgida do estado deplorável das finanças paranaenses. O que está em jogo não é um ideário, é a condição do governo de cumprir minimamente com o que a lei exige, e conseguir pôr as contas em dia.

Fosse um jeito de governar, fossem ideias que estivessem em jogo, Richa teria a obrigação de ter defendido isso antes da reeleição. Aliás, teria de ter dito antes da primeira eleição para o governo do estado, em 2010. Apresentaria a fusão dos fundos previdenciários como um modo de resolver os problemas do Paraná. Diria que os professores não poderiam ter certos benefícios. Que o funcionalismo custava demais e não podia ter certos benefícios. Mas não.

Fosse um jeito de governar e Richa teria tomado essas medidas assim que assumiu o governo, quatro anos atrás. Mas, na época, pelo contrário, o governador fez um discurso bastante diferente. Aliás, esse é exatamente o ponto: as medidas anunciadas pelo governo (inclusive pelo método de aprovação na Assembleia) divergem inteiramente daquilo que Richa prometeu ao longo dos anos – e também na última eleição.

Começando pela parte da votação na Assembleia. O governador tinha repetido inúmeras vezes durante o processo eleitoral que a marca de seu governo era o diálogo. Mas, novamente, colocou para votar os projetos sem qualquer negociação com a sociedade, num regime de urgência que não se justifica. O tal "tratoraço" tem, esse sim, se transformado em uma marca do governo atual, o que não é bom.

Outro discurso que tinha sido típico de Richa foi o do choque de gestão. O governador, em sua primeira eleição, falava sempre em "fechar as torneiras do desperdício". Mas não foi isso que se viu. Pelo contrário: em grande medida a situação fiscal do estado é desastrosa porque houve um descontrole com as finanças.

O próprio secretário da Fazenda encarregado de redigir o novo "pacote de maldades", Mauro Ricardo, admitiu problemas. Diz que não se pode gastar verbas sem saber se elas virão – e Richa afirmou orgulhosamente que "adiantou" a contrapartida do estado a empréstimos do governo federal que estavam demorando a vir. Disse que há superestimativa de receitas, que os governos (quais?) criavam fontes fictícias de verbas para empatar com as despesas previstas.

Não houve choque de gestão. Não se fecharam as torneiras do desperdício. Gastou-se o que não se tinha. E, quando o estado estava à beira da falência, tiraram da cartola medidas para tentar corrigir tudo isso à força – sem diálogo, sem discussão, sem tempo para pensar. Definitivamente, não é um bom início para a segunda gestão de Richa.

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