Fachada da Petrobras, alvo da Lava Jato.| Foto: Antonio Lacerda/EFE

A Petrobras abriu procedimento interno para apurar a entrega de “brindes especiais” por parte da Odebrecht para 100 funcionários do primeiro e segundo escalão da estatal. A lista de beneficiários foi obtida pela Polícia Federal durante busca na sede da construtora, em junho, e vincula os brindes de fim de ano a artistas famosos, como Oscar Niemeyer, Carybé e Alfredo Volpi. O documento foi anexado ao processo contra o presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, e executivos do grupo.

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“A Petrobras tomou conhecimento nesta segunda-feira (27) de uma lista de empregados e ex-empregados que seriam destinatários de ‘brindes especiais-2010’. A empresa, internamente, iniciará de imediato a apuração dos fatos”, afirmou a estatal, em nota.

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Entre os ex-funcionários citados na lista está o atual ministro Secretário-Geral da Presidência da República, Miguel Rossetto, diretor da Petrobras Biocombustíveis entre 2008 e 2014. No fim de 2010, Rossetto recebeu uma obra do artista ítalo-brasileiro Alfredo Volpi.

Rossetto admitiu ter recebido o presente da Odebrecht, mas alegou que não se tratava de obra original, mas uma reprodução. Para ele, recebê-la não contrariava a norma interna da empresa.

“Miguel Rossetto recebeu quando presidente da Petrobras Biocombustível uma reprodução de gravura do Alfredo Volpi. O recebimento desta peça no final do ano de 2010 não contrariava o Código de Ética do Sistema Petrobras”, alegou, em nota oficial.

No entanto, o artigo 3.12 do código em vigor à época, editado em 2006, permitia a funcionários da estatal aceitar “brindes apenas promocionais, públicos, não exclusivos, sem valor comercial, nos seus relacionamentos com público externo ao Sistema”.

Proximidade

Para os investigadores da Lava Jato, a entrega de presentes “de valor” a funcionários da Petrobras revela uma relação de proximidade entre fornecedores e a empreiteira.

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A listagem aponta que o remetente dos presentes era o diretor da Odebrecht Rogério Araújo – executivo que foi afastado do cargo no último dia 19 de junho, data em que foi preso pela Polícia Federal.

Por meio de nota, a Odebrecht informou que não se manifestaria sobre o tema e disse que apenas o diretor Rogério Araújo deveria se pronunciar.

A defesa de Araújo informou, em nota, que “a relação de brindes trazida na denúncia não se refere a pinturas milionárias, como tem sido a opinião pública levada a entender, mas a reproduções das obras de arte dos artistas mencionados”.

Odebrecht e Araújo não informaram o valor dos brindes entregues aos dirigentes da Petrobras.

Gabrielli e Graça

De acordo com a lista, o ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli recebeu uma obra de Oscar Niemeyer, na época em que estava à frente da empresa, assim como seu chefe de gabinete, Armando Tripodi, e o diretor Almir Guilherme Barbassa. Graça Foster recebeu uma obra de Cícero Dias; Paulo Roberto Costa recebeu obra de Cildo Meirelles e, Renato Duque, obra de Lúcio Costa.

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“Pelas anotações, pode-se concluir que os ‘brindes’ são, de fato, pinturas de diversos artistas renomados, como Alfredo Volpi, Gildo Meirelles, Romanelli e, até mesmo, Oscar Niemeyer”, escreveram os procuradores que assinam a denúncia contra os dirigentes da empreiteira, sem considerar a hipótese de se tratar de reproduções, ainda que valiosas.

Na peça de acusação, eles também afirmam que “a listagem é formada tão somente por funcionários de alto escalão da Petrobras”, citando o presidente da empresa e diretores.

Entretanto, a lista apreendida mostra que, além de diretores, também receberam presentes os gerentes da estatal e dirigentes à frente de unidades estratégicas da Petrobras, como a Refinaria Abreu e Lima e o Comperj.