A Polícia Federal encontrou na madrugada desta quarta-feira num estacionamento em Fortaleza a van Traffic usada no roubo dos R$ 156 milhões do prédio do Banco Central, o maior assalto do país. O carro foi levado para a Superintendência da PF, onde três pessoas chegaram algemadas.
Dentro do carro, a PF encontrou sacos de náilon, e notas de R$ 50. Algumas delas, no valor total de R$ 350, estavam soltas. Também foi encontrado um maço de notas de R$ 50 (no valor total de R$ 5 mil), com lacres do Banco do Brasil. Também havia areia dentro do carro, além de pontas de cigarro, uma delas com marca de batom.
Os bandidos chegaram no fim de semana à caixa-forte do BC utilizando um túnel de 80 metros de extensão e 70 centímetros de largura, que saiu de dentro de uma casa alugada três meses antes pela quadrilha.
O assalto só foi descoberto segunda-feira por volta das 8h, quando funcionários abriram a sala do cofre e encontraram um buraco circular e vestígios deixados pelos bandidos. Os sensores de movimento e as câmeras de vigilância não funcionaram. O montante roubado pesava em torno de 3.500 quilos. Na casa onde inicia o túnel que chegou até a agência do BC, funcionava uma empresa de fachada, registrada na junta comercial do Ceará.De acordo com a PF, que ainda não divulgou os retratos-falados já feitos dos supeitos, a quadrilha espalhou um pó branco por toda a casa, para cobrir as provas, mas a perícia encontrou impressões digitais num armário e no aparelho de interfone usado para comunicação com os assaltantes que trabalhavam na escavação.
Uma força tarefa com a participação de mais de 100 homens das policias Federal, Civil, Militar e Rodoviária foi montada para ajudar no trabalho.
SUSPEITOS DE SÃO PAULO - A Polícia Federal trabalha com a hipótese de os assaltantes serem de fora do estado do Ceará. A suspeita é de que a ação tenha sido executada pela "quadrilha do tatuzão", chefiada pelo ladrão de banco Moisés Teixeira da Silva, o Cabelo. Ele foi condenado a mais de 200 anos de cadeia por vários crimes. Cabelo e mais nove pessoas são acusadas de roubar R$ 4,7 milhões da transportadora Transbank, na Penha, zona leste de São Paulo, em 11 de outubro de 2004. Na ocasião, o bando cavou um túnel de 110 metros de comprimento, que saía de uma casa alugada e a ligava até a parte interna da transportadora.
OBRA DE PROFISSIONAL - De acordo com o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Ceará (Crea), Otacílio Borges, o terreno onde foi cavado o túnel de 80 m é arenoso e precisou de sustentação para não desabar, o que mostra que houve envolvimento de especialista. Segundo o Crea, 30 toneladas de areia foram retiradas, o suficiente para encher seis caminhões. A caixa-forte tem 500 metros quadrados e as paredes, de dois metros de espessura, eram revestidas de concreto e malha de aço.
Revestido de madeira e lona plástica, com iluminação elétrica e ventiladores, o túnel é uma obra de engenharia bem construída, ligando o BC a uma casa localizada a um quarteirão de distância. Quatro contêineres com cédulas de R$ 50 foram totalmente esvaziados e um quinto apenas parcialmente.
Os ladrões desprezaram as notas novas e seriadas para evitar o rastreamento. Segundo o BC, as notas tinham sido recolhidas da rede bancária para passar por uma análise do estado de conservação. Só depois é que o BC decidiria se elas voltariam aos bancos ou seriam incineradas. Por isso, o banco não tem o registro dos números das cédulas.
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