Em depoimento sigiloso de quase três horas ao Conselho de Ética do Senado, os delegados da Polícia Federal responsáveis pelas Operações Vegas e Monte Carlo confirmaram nesta terça-feira (15) a ligação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) com o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Integrantes do conselho afirmaram que os depoimentos de Raul Alexandre de Souza e Matheus Mela Rodrigues comprovam que Demóstenes usou o mandato para defender interesses de Cachoeira no Congresso -assim como mantém uma relação de "intimidade" com o empresário do ramo de jogos.
"Pela colocação dos delegados, isso fica claro. A ação [do Cachoeira] era na defesa de seus interesses em órgãos públicos", disse o relator do processo no conselho, senador Humberto Costa (PT-PE).
Os delegados afirmaram que as interceptações telefônicas das duas operações flagraram 416 conversas diretas entre Demóstenes e Cachoeira - 63 na Operação Vegas, que terminou em 2009, e outras 353 na Monte Carlo.
Há outros 292 diálogos interceptados pela PF de conversas entre integrantes da "organização criminosa" que citam Demóstenes.
Em uma delas, o tesoureiro da suposta organização criminosa comandada por Cachoeira, Gleyb Ferreira da Cruz, diz estar na porta da residência de Demóstenes esperando para entregar R$ 20 mil ao parlamentar.
Em outra conversa mencionada pelos delegados, Cachoeira fala com Cláudio Abreu, diretor afastado da empresa Delta, sobre a entrega de R$ 1 milhão ao "professor", que seria Demóstenes.
Segundo os integrantes do conselho, todas as revelações dos delegados são baseadas nas interceptações telefônicas da PF nas duas operações. Eles negaram que o senador tenha sido alvo das investigações ao afirmarem que, por ser citado indiretamente em alvos da polícia, acabou sendo flagrado pelas escutas.
A defesa de Demóstenes tenta anular no STF (Supremo Tribunal Federal) as escutas telefônicas por considerá-las ilegais -já que, por ter foro privilegiado, o senador só poderia ter sido investigado com autorização do Supremo.
"Tivemos hoje a prova inquestionável de que um senador ficou durante meses sendo investigado de forma ilegal", disse o advogado de Demóstenes, Antônio Carlos de Almeida Castro.
Os delegados também confirmaram que Cachoeira deu a Demóstenes um rádio Nextel para conversas exclusivas seguindo uma orientação de um dos membros da "organização criminosa" de que o aparelho seria imune a grampos telefônicos.
Mandato
Para os membros do conselho, a situação de Demóstenes se complica com os depoimentos dos delegados. "Está claro que o senador atuava para fazer lobby em favor do Cachoeira no Congreso. Isso está claro pelo intenso número de ligações", disse o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
Numa comprovação do suposto lobby em favor do jogos de azar, Randolfe disse que Demóstenes defendeu a aprovação de projeto do ex-senador Maguito Vilela em favor da legalização das casas de bingos. "Havia uma relação muito próxima e comprometedora", afirmou o senador.