A Polícia Federal já tem o retrato-falado dos suspeitos do assalto ao Banco Central de Fortaleza. As imagens teriam sido feitas a partir do depoimento de dez pessoas, mas a polícia decidiu não divulgar os retratos. Peritos que participaram da investigação disseram que estão perto de fazer a primeira prisão.
Numa ação cinematográfica, bandidos fizeram no fim de semana o maior assalto a banco no Brasil. Roubaram R$ 156 milhões da caixa-forte da sede do Banco Central em Fortaleza utilizando um túnel de 80 metros de extensão e 70 centímetros de largura. O assalto só foi descoberto segunda-feira por volta das 8h, quando funcionários abriram a sala do cofre e encontraram um buraco circular e vestígios deixados pelos bandidos. Os sensores de movimento e as câmeras de vigilância não funcionaram. O montante roubado pesava em torno de 3.500 quilos.
A Polícia Federal trabalha com a hipótese de que os assaltantes eram de fora do Estado do Ceará. Na casa onde inicia o túnel que chegou até a agência do BC, funcionava uma empresa de fachada, registrada na junta comercial do Ceará. O nome do proprietário, Paulo Sérgio de Souza, é falso, mas eles acreditam que esta informação possa levar ao chefe da quadrilha. Uma força tarefa com a participação de mais de 100 homens das policias Federal, Civil, Militar e Rodoviária foi montada para ajudar no trabalho.
Algumas pistas já foram encontradas. A quadrilha espalhou um pó branco por toda a casa, para cobrir as evidências, mas a perícia encontrou impressões digitais num armário e no aparelho de interfone usado para comunicação com os assaltantes que trabalhavam na escavação. A polícia também já sabe que, para fugir, a quadrilha usou o mesmo furgão que retirava os sacos de terra da casa.
De acordo com o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Ceará (Crea), Otacílio Borges, o terreno onde foi cavado o túnel de 80 m é arenoso e precisou de sustentação para não desabar, o que mostra que houve envolvimento de especialista. Segundo o Crea, 30 toneladas de areia foram retiradas, o suficiente para encher seis caminhões.
A caixa-forte tinha 500 metros quadrados e as paredes, de dois metros de espessura, eram revestidas de concreto e malha de aço. O escritório do BC, que faz a distribuição de dinheiro para agências bancárias da região, foi fechado às 18h de sexta-feira e aberto às 8h desta segunda, quando o roubo foi constatado.
Revestido de madeira e lona plástica, com iluminação elétrica e ventiladores, o túnel é uma obra de engenharia bem construída, ligando o BC a uma casa localizada a um quarteirão de distância. Quatro contêineres com cédulas de R$ 50 foram totalmente esvaziados e um quinto apenas parcialmente. Os ladrões desprezaram as notas novas e seriadas para evitar o rastreamento. Segundo o BC, as notas tinham sido recolhidas da rede bancária para passar por uma análise do estado de conservação. Só depois é que o BC decidiria se elas voltariam aos bancos ou seriam incineradas. Por isso, o banco não tem o registro dos números das cédulas.
A ação foi planejada há pelo menos três meses, quando os bandidos alugaram a casa de número 1.071 na Rua 25 de Março. Nesse local, montaram uma empresa de fachada, a Grama Sintética. Num quarto localizado no fundo, que faz divisa com um anexo em construção da Bolsa de Valores Regional, abriram o buraco de entrada do túnel com aproximadamente um metro quadrado. O telefone da Grama Sintética está registrado em nome de Paulo Sérgio de Souza.
O Banco Central abriu uma sindicância para apurar o caso, da qual fazem parte o diretor de Estudos Especiais, Alexandre Tombini, o diretor de Política Econômica, Afonso Bevilaqua, o diretor de Fiscalização, Paulo Sérgio Cavalheiro, e o procurador-geral Francisco José de Siqueira. A comissão tem 30 dias para averiguar onde houve falha.
Não foi a primeira vez que uma caixa-forte do Banco Central foi arrombada por assaltantes. Houve nos últimos anos dois casos, um em Salvador (BA) e outro em Recife (PE). Em Salvador, o assalto foi em julho de 1991 no valor equivalente de R$ 53,8 milhões. O roubo de Recife ocorreu em 1991, somando R$ 27,9 milhões. O BC utiliza suas regionais para a distribuição de dinheiro, e o BB realiza este trabalho em pequenas cidades. No Nordeste, o BC usa as caixas-fortes de Forteleza e de Recife.
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