Investigações da Polícia Federal indicam que o desembargador José Eduardo Carreira Alvim, ex-vice-presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª região, teria trocado favores com o escrivão da Polícia Federal Marcello Jansen de Mello.
Um relatório, ao qual o "Jornal Nacional", da TV Globo, teve acesso com exclusividade, aponta que Jansen de Mello, que participou de um concurso interno na Polícia Federal, entrou com ação na Justiça pedindo nomeação e posse no cargo de delegado.
A sentença foi dada por Carreira Alvim e determinava que Jansen de Mello começasse imediatamente a fazer os exames necessários e fosse incluído no curso de formação de delegados. O desembargador estabeleceu multa de R$ 1 mil por dia se a decisão não fosse cumprida.
A Polícia Federal concluiu que Carreira Alvim desconfiava que vinha sendo monitorado. Por isso, segundo as investigações, teria pedido que Jansen de Mello verificasse se estavam sendo feitas escutas em suas ligações telefônicas e na sala de trabalho, no Tribunal Regional Federal. O relatório descreve uma conversa em que o policial garante a Carreira Alvim que nenhuma escuta estava sendo feita naquele momento.
Segundo a Polícia Federal, quando suspeitou que estava sendo investigado - antes da Operação Furacão-, o desembargador mudou de telefone. Mas os investigadores conseguiram fazer novas escutas. Numa delas, Carreira Alvim comenta: "Me pegar por corrupção, eles não vão pegar nunca".
Outro lado
Procurado pelo G1, o advogado do desembargador Carreira Alvim preferiu não se manifestar sobre a acusação.
"Só vamos nos manifestar no momento da defesa dele [Carreira Alvim] no Supremo Tribunal Federal. Estamos estudando o processo, que é muito grande", disse o advogado Luiz Guilherme Vieira ao G1.
Irmãos Medina
Nesta sexta-feira (4), Virgilio de Oliveira Medina, irmão do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Paulo Medina, prestou depoimento por quase duas horas.
Preso no Rio, ele é acusado de intermediar a venda de sentenças judiciais para favorecer integrantes da chamada máfia dos caça-níqueis. Ele nega as acusações.
O advogado de Virgílio Medina, Renato Tonini, disse que seu cliente está sendo vítima de uma "obra de ficção" montada pela Polícia Federal e aceita pelo Ministério Público.
No entanto, numa conversa com um advogado dos contraventores, segundo a polícia, Virgílio teria dito quanto queria para conseguir a liminar.
"O mínimo que eu falei, a nossa diferença tá entre 600 [mil] a 1 milhão", disse Virgílio, segundo uma das escutas. "1 milhão, hum, hum", respondeu o advogado Sérgio Luzio Marques de Araújo, também preso pela operação da PF.
Em resposta, o advogado Virgilio Medina disse: "Não é isso? Então, eu acho que a gente fecharia em 200 mais 400. 600 vai sobrar 400. Esses 400 que vocês vão ter que negociar entre vocês."
As investigações revelam que, além de supostamente ter favorecido a máfia dos caça-níqueis, o ministro e o irmão dele, o advogado Virgílio Medina, teriam negociado outras decisões judiciais.
Em um dos casos, eles teriam ajudado um grande banco, que respondia a uma ação no STJ. Segundo a polícia, antes do julgamento, o ministro Medina se reunia com o irmão e os advogados da instituição financeira.
Virgílio teria ido pessoalmente a Brasília para tratar do caso. Em uma conversa gravada, ele combina a viagem com o advogado que defendia o banco. No julgamento, o ministro Paulo Medina decidiu a favor do banco.
O advogado do ministro Paulo Medina, Antônio Carlos de Almeida Castro, disse que o cliente nunca esteve reunido com representantes de bancos junto com o irmão, Virgílio Medina.
"Em nenhum momento o ministro recebeu, junto com o irmão, qualquer advogado de instituição bancária. E se recebeu, sozinho, advogados de bancos, é uma atitude normal. É bom que seja assim. É um dever do juiz e um direito do advogado", afirmou.
Desde a divulgação da Operação Furacão, o ministro Paulo Medina nega envolvimento com a máfia dos caça-níqueis e com a venda de sentenças. Ele afirma que teve o nome utilizado indevidamente por integrantes do esquema de exploração do jogo ilegal.
Segundo José Carlos Tórtima, advogado de Sérgio Luzio Marques de Araújo, seu cliente admite que trabalhava como advogado de bingos, mas nega qualquer envolvimento com contraventores ou contatos com desembargadores ou outras autoridades com o objetivo de facilitar a liberação de liminares para o funcionamento de jogo ilegal.