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Beto Richa: segundo depoimento de delator da Operação Publicano, campanha do tucano teria recebido até R$ 2 milhões do esquema de corrupção na Receita Estadual. | Brunno Covello/Gazeta do Povo
Beto Richa: segundo depoimento de delator da Operação Publicano, campanha do tucano teria recebido até R$ 2 milhões do esquema de corrupção na Receita Estadual.| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

O doleiro Alberto Youssef, delator da Operação Lava Jato, foi ouvido nesta quinta-feira (9) pela Procuradoria-Geral da República (PGR), em Curitiba, sobre a suspeita de que dinheiro desviado da Receita Estadual do Paraná abasteceu a campanha de reeleição do governador Beto Richa (PSDB), em 2014. A reportagem não teve acesso ao teor do depoimento.

Suposto caixa 2 foi citado por dois delatores

A suposta existência de um caixa dois na campanha de reeleição do governador Beto Richa (PSDB) foi citada em dois depoimentos ao Ministério Público Estadual (MP). Em fevereiro, o fotógrafo Marcelo Caramori, preso por suspeita de envolvimento em escândalo de exploração sexual de menores de 18 anos, declarou que haveria um esquema de arrecadação coordenado por Luiz Abi Antoun “proveniente dos vários órgãos [públicos] do estado”. Caramori era funcionário comissionado da Casa Civil e foi exonerado.

Já o auditor da Receita Estadual Luiz Antônio de Souza, alvo de investigações sobre o esquema no Fisco do Paraná e de exploração sexual de menores, declarou que a campanha de Richa teria recebido R$ 2 milhões ilicitamente. Souza apresentou uma nota fiscal que comprovaria que pagou R$ 5,7 mil do próprio bolso para comprar divisórias utilizadas em um comitê eleitoral de Richa em Londrina. Como esse pagamento não consta da prestação oficial de contas da campanha, é um indício de caixa dois.

Souza e Caramori também apontaram Luiz Abi Antoun, primo distante de Richa, e Márcio de Albuquerque Lima, ex-inspetor geral da Receita Estadual, como operadores do esquema. À época, o governador negou ambas as acusações e disse que, por estarem envolvidos em esquema de exploração de menores, os acusadores não seriam dignos de confiança.

Advogado de delator diz não ver relação entre Publicano e doleiro

Auditor fiscal suspeito de integrar o esquema no Fisco estadual, Luiz Antônio de Souza disse em delação premiada que ele e seus colegas arrecadaram até R$ 2 milhões para a reeleição de Richa, por meio de caixa 2. Souza fechou acordo de delação, no âmbito da Operação Publicano, com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), braço do Ministério Público Estadual.

Segundo o delator, os auditores que atuavam na delegacia da Receita Estadual de Londrina reduziam ou anulavam as dívidas tributárias de empresas em troca de propina de empresários. Ainda segundo o depoimento de Souza, um ex-inspetor-geral de fiscalização da Receita coordenava o esquema sob as ordens do empresário Luiz Abi Antoun, primo distante de Richa. Luiz Abi foi preso na segunda fase da Operação Publicano. Por meio de seu advogado, Antônio Carlos Coelho Mendes, Abi nega participação no esquema.

Justiça

No mês passado, o ministro João Otávio Noronha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), havia negado pedido do governador para levar à Corte, em Brasília, a investigação que hoje corre em Londrina. A defesa de Richa havia pedido a suspensão das investigações na Justiça do Paraná argumentando que o caso seria de competência do STJ, instância na qual governadores têm prerrogativa de foro, de acordo com a Constituição. A Operação Publicano hoje está sob responsabilidade da 3.ª Vara Criminal de Londrina.

Outro lado

Assessor de imprensa do PSDB-PR, Guilherme Dala Barba disse em nota que o partido “desconhece o teor do depoimento e reitera que todas as doações recebidas na campanha eleitoral de 2014 foram declaradas, registradas e aprovadas integralmente pela Justiça Eleitoral”.

Doleiro da Lava Jato se comprometeu a colaborar com o caso Copel/Olvepar

No último dia 25 de junho, o doleiro Alberto Youssef se comprometeu a colaborar com o Ministério Público do Paraná (MP) nas investigações do caso Copel/Olvepar, ocorrido no governo Jaime Lerner. Youssef estaria envolvido na suposta fraude. Depois da reunião, o advogado do doleiro, Antônio Figueiredo Basto, declarou que seu cliente também iria colaborar com outros “fatos recentes”. O caso Olvepar foi uma fraude envolvendo créditos de ICMS do estado. Em 2002, a Copel comprou da Olvepar, uma empresa de óleos vegetais que faliu no mesmo ano, R$ 45 milhões em créditos de ICMS, pagando R$ 39,6 milhões por isso. Entretanto, os créditos haviam sido considerados irregulares pela Justiça em 2000 – ou seja, um prejuízo duplo ao estado, pois a Copel pagou R$ 39,6 milhões e a Olvepar deixou de pagar R$ 45 milhões aos cofres públicos.

O governo do Paraná informou que apoia as investigações. Desde que a delação do auditor fiscal Luiz Antônio de Souza foi divulgada, o governador Beto Richa tem negado reiteradamente qualquer irregularidade.

A direção estadual do PSDB também já emitiu uma nota oficial na qual afirma que “refuta de forma veemente as declarações do sr. Luiz Antonio de Souza”. “O partido ressalta ainda que todas as doações para a campanha do governador Beto Richa ocorreram dentro da legalidade e foram realizadas voluntariamente, sendo registradas e atestadas pelo Comitê Financeiro. As contas foram apresentadas e aprovadas integralmente pela Justiça Eleitoral”, afirmava a nota.

Advogado de delator diz não ver relação entre Publicano e doleiro

  • londrina

O advogado Eduardo Duarte Ferreira, que defende o auditor Luiz Antônio de Souza, delator da Operação Publicano, disse não acreditar na existência de uma relação entre o caso dos auditores da Receita Estadual e o doleiro Alberto Youssef.

Segundo Ferreira, Souza nunca falou em Youssef, que, apesar de ser de Londrina, já estava operando fora da cidade há muito tempo. “De tudo que eu ouvi o Ministério Público questionando o Luiz Antônio de Souza, jamais foi referida qualquer palavra a respeito do senhor Alberto Youssef. Não consigo ver qualquer intimidade entre os casos”, declarou o advogado.

Segundo ele, se o doleiro londrinense está “depondo sobre a campanha do governador Beto Richa (PSDB), são fatos alheios ao que está sendo investigado em Londrina”.

“Surpresa”

Ferreira disse ter sido “pego de surpresa” com a informação de que Youssef estava falando sobre supostas irregularidades na campanha de Richa.

A incredulidade seria referente à suspeita de que o doleiro que atuava como operador financeiro do ex-deputado federal José Janene (PP), morto em 2010, teria trabalhado com valores muito maiores que os movimentados pelos “publicanos” de Londrina.

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