O advogado de Antonio Pimenta Neves, Carlos Frederico Müller, afirmou nesta quinta-feira que seu cliente vai se entregar à polícia. O jornalista, acusado de matar a ex-namorada e também jornalista Sandra Gomide, em agosto de 2000, teve sua prisão decretada nesta quarta pelo Tribunal de Justiça e o mandado encaminhado à Justiça. Como ainda não se entregou, é considerado foragido. Nesta madrugada, policiais estiveram em frente à residência de Pimenta Neves, na Chácara Santo Antonio, zona sul de São Paulo, que está fechada. Vizinhos do jornalista disseram que ele foi visto na casa dele pela última vez na quinta-feira passada.
- Meu cliente não está foragido. Ontem, às 16h20m, foi protocolada uma petição ao desembargador, pedindo uma audiência para que combinássemos a sua apresentação. Ainda não há manifestação do Tribunal, estamos aguardando desde ontem, a fim de marcar uma hora, resguardando sua integridade física e moral - afirmou Müller.
O advogado afirmou que quer resguardar a integridade de seu cliente porque, durante o julgamento no Fórum de Ibiúna, ele e seu cliente quase foram agredidos pela população. 'Quase fomos mortos', disse.
Nesta quarta, os advogados do jornalista entraram com habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, para evitar a prisão
Pimenta Neves havia sido condenado a 19 anos e dois meses de prisão pela morte de Sandra Gomide, em julgamento de júri popular realizado em Ibiúna. Apesar da condenação, saiu do Fórum em liberdade, pois obteve do Supremo Tribunal Federal (STF) o direito de ficar solto até que os recursos fossem todos julgados.
A 10ª Câmara Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a prisão e reduziu a pena para 18 anos, por ele ser réu confesso. A decisão do TJ foi tomada durante julgamento de recurso apresentado pela defesa do jornalista, que tentava anular o julgamento de maio.
- Foi feita a justiça sete meses depois da condenação. Considero que a decisão foi tomada com bastante velocidade pelos desembargadores - diz o advogado da família de Sandra Gomide, Sergei Cobra Arbex.
Segundo ele, os advogados de Pimenta tiveram todas as oportunidades de defesa e não havia argumentos para outro julgamento. A alegação era de que uma testemunha não havia sido ouvida.
- Num crime como este, não é justo que ele fique solto. Ele executou uma pessoa - diz o advogado Sergei Cobra.
Sandra foi morta em um haras em Ibiúna, a 73 quilômetros de São Paulo. Pimenta Neves ficou preso por sete meses e depois conseguiu na Justiça o direito de aguardar o julgamento em casa.
O namoro de quatro anos de Pimenta Neves, que era diretor de redação de 'O Estado de S.Paulo', e Sandra Gomide, editora de Economia no mesmo jornal, terminou de forma trágica na tarde de um domingo, no Haras Setti, em Ibiúna. Transtornado com o rompimento do relacionamento e com a notícia de que ela estava apaixonada por outra pessoa, Pimenta Neves matou Sandra com dois tiros, um nas costas e outro na cabeça. Não houve chance de defesa.
Semanas antes, Sandra havia dito a Pimenta que queria terminar o relacionamento. Num encontro entre ambos em seu apartamento, a jornalista disse que estava apaixonada por outra pessoa. Pimenta descobriu que tratava-se de um dos proprietários do Diário Hoy, terceiro maior jornal do Equador. Sandra havia conhecido Jaime Mantilla numa viagem àquele país, onde foi fazer uma reportagem sobre a situação da companhia aérea Ecuatoriana de Aviación, do empresário Wagner Canhedo. Ela conversou com Mantilla diversas vezes e quando voltou ao Brasil passaram a trocar emails.
Pimenta ainda tentou a reconciliação, mas Sandra estava decidida a romper. Ele então passou a persegui-la. Demitiu Sandra do jornal e ligou a vários amigos para que não lhe dessem emprego. A relação, que até então havia sido classificada de carinhosa por amigos, transformou-se em agressiva. A perseguição terminou naquele domingo.
Pela manhã, Pimenta visitou os pais de Sandra, e em seguida seguiu para o Haras. Ele tinha certeza que Sandra estaria lá à tarde. Chegou em seu carro, viu a ex-namorada e correu atrás dela. Disparou pelas costas e depois deu outro tiro acima do ouvido esquerdo, à queima-roupa. Deixou o corpo de Sandra estendido no chão, manobrou seu carro e saiu. Da estrada, ligou várias vezes para o jornal. Contou o que tinha feito e queria saber se a jornalista havia morrido. No mesmo dia, confessou o crime a seu advogado, Antonio Cláudio Mariz.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Deixe sua opinião