Em depoimentos ao Ministério Público Federal, o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios Maurício Marinho, pivô da crise política que já completou três meses, mudou a versão inicial e revelou detalhes do esquema de corrupção na estatal.

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Num dos trechos mais contundentes, acusou o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de comandar o esquema de arrecadação de dinheiro nos Correios para o partido com mão-de-ferro. E disse ainda que o ex-presidente do PTB fazia o mesmo em outras estatais nas mãos do partido.

Para fiscalizar a arrecadação, segundo Marinho, Jefferson teria designado seu genro, Marcos Vinícius Vasconcelos Ferreira, para acompanhar semanalmente as negociações feitas nos Correios por representantes do PTB. Marcos Vinícius não trabalhava na estatal. Era assessor do petebista Luiz Rondon na diretoria da Eletronuclear. Mas, pela versão de Marinho, visitava com freqüência a estatal.

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- O Marcos Vinícius funcionava como os olhos e ouvidos de Jefferson nos Correios e nas outras estatais comandadas pelo PTB - relatou Marinho em seu depoimento. Ele tenta negociar a redução de pena em troca de informações.

Autoridades ouvidas pelo GLOBO que tiveram acesso ao teor dos depoimentos, tomados ao longo do último mês, ficaram espantadas com o novo relato de Marinho. Ele admitiu que integrava o núcleo que operava o direcionamento das licitações nos Correios para arrecadar recursos para os partidos aliados do governo. Disse ainda que o esquema era feito com aval do ex-diretor de Administração dos Correios Antônio Osório Batista, indicado pelo PTB, e até mesmo pelo ex-presidente da estatal João Henrique, indicado pelo PMDB.

As revelações de Marinho estão mantidas sob sigilo pelo Ministério Público Federal. Os depoimentos foram dados para a procuradora da República Raquel Branquinho. Mas quem já teve acesso ao conteúdo diz que o tom é bem mais contundente do que o depoimento prestado à CPI dos Correios. Marinho confirmou que ano passado Jefferson começou a ficar desconfiado com o tesoureiro informal do partido e então diretor da Embratur, Emerson Palmieri, e que por isso repassou atribuições que antes eram de Palmieri para o genro Marcos Vinícius.

- Já temos a informação de que Marinho revelou todo o esquema de corrupção nos Correios. Ele apresenta fatos relevantes do esquema em todas as áreas da estatal e detalha a tecnologia da corrupção. É um depoimento bomba porque ele fala tudo. Vamos solicitar este depoimento ao Ministério Público Federal - diz a senadora Heloísa Helena (P-SOL-AL), integrante da CPI.

Maurício Marinho virou personagem da crise política que atingiu o governo Lula quando reportagem da "Veja" mostrou que ele fora filmado recebendo uma propina de R$ 3 mil. Na fita, ele diz que operava com o aval do então diretor dos Correios Antônio Osório Batista e do deputado Roberto Jefferson. No depoimento ao Ministério Público, ele confirmou o teor da fita, fato que chegou a desmentir num primeiro momento. Marinho também voltou a centrar fogo no ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira, a quem atribuiu as indicações dos diretores que comandavam as áreas de Tecnologia e Operações.

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Na nova série de depoimentos, Marinho denunciou o organograma da corrupção nos Correios. Apontou irregularidades nas aquisições de máquinas de registrar digitais, de kits para o setor de administração e na construção das salas-cofres da estatal em São Paulo e Brasília, coordenada pela área de Tecnologia. Também revelou problemas nas aquisições de software e hardware pelos Correios. Voltou a revelar o interesse específico de Sílvio Pereira na compra de leitoras de contas de água e luz, cuja beneficiária seria a empresa HHP.

Também voltou a citar problemas na licitação para a compra de kits para o banco postal e para serviços de automação que envolveria um contrato de mais de R$ 120 milhões que, segundo Marinho, teria sido feito com o consórcio Alfa e a Novadata, empresa de informática que pertence ao empresário Mauro Dutra, ligado ao PT. Ele apontou ainda a existência de monopólio para a compra de bicicletas, motos e veículos para os Correios. Voltou a denunciar as irregularidades no direcionamento de grandes clientes para agências franqueadas e reforçou a denúncia de esquema de concessão destas agências a laranjas de parlamentares.

Três semanas depois das primeiras denúncias contra os Correios, no início de junho, caiu toda a diretoria da estatal. Nos Correios foram demitidos os diretores que tinham apoio partidário: o de Tecnologia, Eduardo Medeiros de Morais; e de Operações, Maurício Coelho Madureira, ambos do quadro da empresa, mas cujas nomeações tiveram o respaldo do PT; o Comercial, Carlos Fioravante da Costa, indicado pelo então senador e hoje ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB-MG); o de Recursos Humanos, Robinson Viana da Silva, afilhado do líder do PMDB, Ney Suassuna (PB); e Ricardo Suñer Caddah, respaldado pelo líder do PMDB na Câmara, José Borba (PR), além do presidente da estatal, João Henrique.