Incomodado com o número cada vez maior de denúncias envolvendo o ministro da Fazenda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa a considerar a possibilidade de Antonio Palocci deixar o governo. O presidente não quer substituí-lo, mas avalia que seu principal ministro está numa posição difícil e pode se tornar insustentável, caso surjam novas denúncias de corrupção contra Palocci ou se comprovem as que já foram feitas. Embora o Palácio do Planalto tenha divulgado uma nota na noite de sábado afirmando que ele fica no cargo, Lula já pensa numa lista de possíveis substitutos.
Se o presidente resolver manter a linha de contenção de gastos, os nomes com mais chances de emplacar são o do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, e do ministro do Planejamento Paulo Bernardo. Mas, caso Lula decida se mostrar mais liberal em relação ao gasto público, teria como opção o senador petista Aloizio Mercadante (SP), líder do governo, que teve alguns confrontos com Palocci no início do governo, mas agora o defende.
A maior preocupação é encontrar alguém com perfil para executar uma política que combine responsabilidade fiscal, equilíbrio nas contas públicas e manutenção de alto superávit primário e, ao mesmo tempo, sinalize o aumento de despesas para investimentos, atendendo à crescente demanda interna por gastos e levando em conta o ano eleitoral.
Entre os aliados, cresce a inquietação com a chegada de 2006 e, se os projetos não ganharem impulso agora, não haverá tempo para apresentar resultados no palanque. Por isso a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, fez sucesso na reunião com o PMDB em que defendeu a liberação de emendas ao Orçamento e verbas para obras.
Portugal seria um substituto natural. Tem bom relacionamento com os organismos internacionais e trânsito razoável no PSDB, que governava quando ele era secretário do Tesouro Nacional. Sua fraqueza, em avaliações do Palácio e do PSDB, é não ter apoio do PT nem de Lula para resistir, por exemplo, a provocações de Dilma.
Mercadante, preterido por Lula na montagem do Ministério, tem trânsito no Congresso e no PT, mas já discordou várias vezes da política econômica, especialmente em relação aos juros e às metas de inflação. Desde que Dilma fez Palocci de alvo, porém, ele tem defendido o ministro e sua política. Mas a alternativa é considerada mais especulação política do que solução.
Lula pode ainda lançar mão de Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, se quiser manter a austeridade fiscal. Há no Planalto quem fale do deputado Delfim Neto, um nome de peso político.
Lula e seus auxiliares esperam a volta do ministro da Fazenda na quarta-feira. A pergunta é: como ele estará depois de sua "reflexão sobre a vida"?
- Até dias atrás, se havia uma denúncia contra Palocci, ele convocava uma entrevista e saía glorioso. Agora, o ministro cedeu ao mutismo do esconderijo. Está retraído e bombardeado - analisa o senador José Agripino Maia (RN), líder do PFL.
Lula sofre com a possibilidade cada vez mais concreta de ter de se despedir de seu ministro. Aborrece-o a fragilização do condutor da política econômica, vitrine do governo e trunfo eleitoral. Por isso, o estado emocional do ministro será o balizador do impasse. Antes do retiro, Palocci estava emotivo e teria demonstrado isso ao ler os jornais.
A ordem em Brasília é desqualificar as últimas denúncias contra Palocci, especialmente do advogado Rogério Buratti, que teria dito em depoimento ao Ministério Público que o ministro participou de reunião com donos de bingo angolanos que deram R$ 1 milhão à campanha de Lula.
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