Em depoimento dado à Polícia Federal na última quarta-feira, o policial militar João Dias Ferreira, delator do suposto esquema de corrupção no Ministério do Esporte, disse que foi informado por terceiros que metade do dinheiro desviado de convênios com ONGs ligadas ao PCdoB era destinada ao ministro Orlando Silva. "Parte dos valores recebidos pelo ministro era para proveito pessoal e parte era para beneficiar o PCdoB", afirmou. O depoimento durou mais de sete horas.
Dias não apresentou vídeos, áudios e outras provas prometidas, alegando que o fará na próxima segunda-feira. Mas ele detalhou o que seria um esquema de aparelhamento e arrecadação de propina que o PCdoB teria montado no ministério. Segundo o delator, pelo menos quatro remessas de dinheiro foram entregues na garagem do ministério e numa delas Silva estaria presente e teria baixado o vidro do carro para falar com o entregador. "É muito pouco provável que o ministro não tenha visto a entrega dos malotes", ironizou.
Questionado pelos delegados que o interrogavam, o delator ressalvou que "nunca viu o ministro recebendo qualquer malote de dinheiro". Ele disse que "todas as informações prestadas sobre coleta e distribuição dos recursos arrecadados foram prestadas por Célio [Soares], Toni Matos (ex-jogador de futebol) e Michael [Vieira], em conversas informais". Os três seriam operadores do esquema.
Dias relatou que em 2004 foi procurado por uma comissão de cúpula do ministério, comandada pela coordenadora-geral da Secretaria de Esporte, Ralcilene Santiago, que lhe propôs parceria com o programa Segundo Tempo destinado a promover atividades esportivas e culturais junto a alunos carentes.
Em contrapartida, o policial teria de comprar materiais esportivos de fornecedores indicados pelo esquema e deveria pagar uma fatia de 10 a 20% do valor do convênio a um escritório de advocacia designado pelo grupo. Metade do dinheiro arrecadado com o pedágio cobrado de Dias e de outras ONGs, segundo o delator, seria destinada à estruturação do PCdoB no Distrito Federal.
Encontros
Dias disse que teve não só um encontro com Orlando Silva, como alega o ministro, mas vários durante a vigência dos convênios. O mais marcante deles teria ocorrido em 2008, no Grupamento de Fuzileiros Navais. Na presença de testemunhas, o ministro o teria orientado a comprar quimonos do fornecedor Miguel Santos Souza, espécie de chefe de operação do esquema de captação de dinheiro desviado por meio de uma rede de laranjas. "Em uma dessas conversas, Orlando Silva fez recomendação expressa ao declarante para que este contratasse a aquisição de quimonos junto a Miguel", relatou o policial.
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