Depois de pedir a prisão da cúpula do PMDB por suspeita de tentativa de obstrução da Operação Lava Jato, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ficou “jurado” pelo partido. Os peemedebistas parecem ter declarado guerra ao procurador, que tem pouco apoio no meio político por causa de sua atuação nas investigações da Lava Jato.
Na última terça-feira (14), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), disse que pode aceitar um dos pedidos de impeachment de Janot que foram protocolados na Casa. O pedido foi feito por advogados a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT), alegando que o procurador-geral tratou de forma diferente políticos do PT e do PMDB envolvidos em situações semelhantes na Lava Jato.
Cálculo político
“Foi uma falta de cálculo político pedir essas prisões”, analisa o coordenador do MBA em relações institucionais do Ibmec Marcio Coimbra. “Ficou com cheiro de movimentação política para enfraquecer o PMDB antes da votação do impeachment [da presidente afastada Dilma Rousseff].” Para ele, Janot enfraqueceu a Lava Jato “com pedidos inócuos”.
No dia seguinte à declaração de Renan, seis associações ligadas ao Ministério Público saíram em defesa de Janot, afirmando que a Procuradoria-Geral da República (PGR) “age sempre com total imparcialidade, de acordo com a lei, sem olhar a quem”. O apoio, porém, não encontrou eco em nenhum grupo político.
A falta de apoio pode complicar a vida de Janot caso o pedido de impeachment contra o procurador-geral realmente seja aceito. “Acho que o Renan está disposto a jogar com essa carta”, avalia Coimbra. “Ele [Janot] vai poder contar com o apoio do PT, talvez com o PDT [em caso do pedido de impeachment ser aceito], mas não vai poder contar com outros partidos, como PMDB, PSDB e DEM.”
Irritação
Enquanto isso, o presidente do Senado parece estar cada vez mais irritado com a postura do procurador-geral. Renan reclamou com os colegas que Janot estaria agindo de forma irresponsável ao “estimular vazamentos” referentes à Lava Jato, como o das ligações gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sergio Machado.
Renan afirmou ainda que colocará o Senado à disposição da Polícia Federal para apurar o vazamento da informação de que Janot havia pedido a sua prisão e de outros integrantes da cúpula do PMDB.
Na quarta-feira (15), Renan fez duras críticas à atuação de Janot. “Que o Ministério Público cumpra o seu limite constitucional, porque o que pareceu, na esdrúxula decisão da semana passada, é que eles [PGR] já haviam perdido os limites constitucionais e, com aqueles pedidos, perderam o limite do bom senso e o limite do ridículo”, disse.
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