| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Em longa sessão de pronúncia, que começou com atraso, na manhã de terça-feira (9) e se estendeu até a madrugada de quarta-feira (10), o Senado decidiu tornar a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) ré no processo de impeachment, sob a acusação de ter cometido crime de responsabilidade. O placar foi de 59 votos a favor do início do julgamento e 21 contra - o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), não votou. Eram necessários ao menos 41 votos para que o processo prosseguisse.

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Dilma é acusada de editar três decretos de créditos suplementares sem aval do Congresso e de usar verba de bancos federais em programas que deveriam ser bancados pelo Tesouro, as chamadas “pedaladas fiscais” –quando foram quitadas, em 2015, o valor pago foi de R$ 72,4 bilhões.

Até às vésperas da votação, o Planalto, comandado interinamente por Michel Temer (PMDB), trabalhava informalmente com cerca de 60 votos contra Dilma, o que acabou se confirmando. Já a presidente afastada, que contava com apoio de alguns dos indecisos, acabou decepcionada com a confirmação de votos contrários, como os de Cristovam Buarque (PPS-DF) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Os discursos de 47 senadores, feitos ao longo da tarde e noite, deram um indicativo do resultado da votação final: 28 encaminharam voto contra a petista.

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O placar, inclusive, indica que a presidente deve ser afastada definitivamente pelo Senado, pois são necessários 54 votos (dois terços dos 81 senadores) para que o impeachment seja aprovado na Casa.

Supressão de prazos pode acelerar o impeachment, como quer Temer

Uma supressão de prazos garantida pela acusação à presidente afastada Dilma Rousseff, pode antecipar o início do julgamento final do processo de impeachment no Senado para o dia 23 de agosto. A data atende aos anseios do presidente interino, Michel Temer, que deseja ver o caso concluído o mais rápido possível.

Os advogados que integram a equipe de um dos autores do pedido de impeachment confirmaram que entregarão o libelo acusatório, documento em que é feito um resumo do processo e a indicação dos crimes cometidos, no início da tarde desta quarta.

Assim, a acusação abre mão do prazo de 48h que teria para entregar o documento e antecipa o início do prazo que a defesa tem, também de 48h, para entregar suas alegações finais. O advogado de Dilma, o ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deverá ter que protocolar o texto na tarde de sexta-feira (12).

Com isso, o presidente do STF poderá marcar o dia do início do julgamento final após dez dias a partir de sexta, seguindo as regras do processo. A expectativa é de que esta fase dure cerca de cinco dias. Lewandowski já avisou que não irá marcar sessões para o fim de semana.

A preocupação de Temer é garantir que seja efetivado no cargo antes de embarcar para a China, onde participará da reunião de cúpula presidencial do G-20, em 4 e 5 de setembro. Senadores da oposição, no entanto, acusam o peemedebista de ter pressa devido à possibilidade de que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) feche um acordo de delação premiada e acabe implodindo o seu governo.

Após as falas dos parlamentares, que consumiram a maior parte da sessão, foi feito um intervalo e, na volta, às 23h10, foi dada a palavra à acusação, com o jurista Miguel Reale Júnior, e à defesa, que foi feita pelo ex-ministro da Justiça e ex-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU) José Eduardo Cardozo. Cada um falou por 30 minutos e, em seguida, foram votados os destaques da defesa, que questionavam o parecer do relator da Comissão Especial do Impeachment, Antônio Anastasia (PSDB-MG), que pediu a condenação da presidente afastada e foi aprovado no colegiado. Após a rejeição deles, o relatório foi votado e aprovado pelo Plenário da Casa.

Na teoria, a presidente só foi declarada oficialmente ré após a rejeição de três destaques restantes e o encerramento da sessão, o que não tinha ocorrido até a 1h50 desta quarta.

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Sessão tumultuada pela manhã

Ao contrário do que ocorreu na votação anterior, em maio, quando Dilma Rousseff foi afastada temporariamente, do lado de fora do Congresso, houve pouco movimento: nenhum manifestante foi registrado em frente ao Senado.

A manhã foi marcada por uma avalanche de “questões de ordem” dos aliados da presidente Dilma Rousseff. Quem conduziu a sessão foi o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que, acostumado a presidir só as sessões da Corte máxima do Judiciário brasileiro, tentou se equilibrar no meio do falatório dos senadores. Mas, o balanço da manhã, segundo o próprio ministro, foi positivo: “Todos foram corteses e conseguiram expor seus pontos de vista livremente”, declarou ele, em entrevista à imprensa.

Uma das questões de ordem, capitaneada pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ), já era esperada pelo plenário. O petista queria a suspensão do processo de impeachment alegando que seria a única forma de garantir uma investigação contra Michel Temer. O senador se refere ao fato de o empresário Marcelo Odebrecht, segundo reportagem da revista Veja, ter declarado aos investigadores da Lava Jato ter repassado R$ 10 milhões em dinheiro vivo ao PMDB, a pedido de Temer.

Se efetivado no cargo, Temer poderia ser “blindado” de qualquer investigação, na visão de Lindbergh Farias. Trecho do artigo 84 da Constituição Federal, destaca o senador, define que um presidente da República, na vigência do seu mandato, não poderá ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício das suas funções.

A questão de ordem, contudo, foi negada por Lewandowski. Para o presidente do STF, o tema é “estranho” ao parecer em debate na Casa, do relator Antonio Anastasia (PSDB-MG), que trata da edição de créditos suplementares sem aval do Legislativo e de pedaladas fiscais, supostos crimes de responsabilidade cometidos por Dilma Rousseff. A suspeita contra Temer também pouco reverberou no plenário, entre os senadores.

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Durante a tarde, Lewandowski passou a ser rigoroso com o tempo concedido a cada senador. A paranaense Gleisi Hoffmann (PT) chegou a ter o microfone cortado, embora tenha continuado a falar, mesmo sem ser ouvida pelo plenário todo. “Vossa excelência esgotou [seu tempo] com muito brilho. A senhora agora está sem áudio”, explicou o ministro.

“Procrastinadores” x “apressados”

Por causa das questões de ordem, os senadores contrários ao impeachment foram chamados de “procrastinadores”. Já aliados de Michel Temer tentaram acelerar o ritmo da sessão ao longo do dia. A bancada do PSDB, por exemplo, definiu que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) seria o representante da legenda na tribuna, eliminando oradores tucanos da lista.

O grupo contou também com a ajuda do próprio presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que tem se aproximado de Temer nos últimos dias. Calheiros conversou diretamente com parlamentares para tentar reduzir o número de oradores. Senadores inicialmente inscritos para falar foram desistindo ao longo da sessão.