O possível fim antecipado do governo Dilma Rousseff não só fechará um ciclo de mais de uma década do PT no poder como também terá impacto sobre a organização das forças partidárias. A previsão é de que as legendas mais alinhadas à esquerda encolham e os próximos 20 anos sejam um período de reconstrução partidária no Brasil. Especialistas estimam ainda a redução das bancadas legislativas desses partidos e uma queda no número de governantes eleitos alinhados com a esquerda.
Esse movimento deve ser percebido já nas eleições municipais deste ano. “Se o impeachment for aprovado, pequenos e médios partidos de esquerda , como PCdoB e PDT, terão seus desempenhos eleitorais prejudicados. Pois o PT, o partido com o qual mais se coligaram, terá um desempenho muito ruim nas eleições municipais de 2016”, avalia o cientista político Adriano Codato, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Dilma arma 3 frentes de batalha para barrar o impeachment
Leia a matéria completaA falta de força organizacional é um dos fatores que influencia o jogo político. Nenhuma outra legenda mais alinhada à esquerda no Brasil tem semelhante quantidade de diretórios, filiados e votos de legenda como o PT. “Para se ter uma ideia mínima, o PT tem uma cobertura territorial de mais de 95% do país. Que partido de esquerda pode hoje sonhar com isso?”, diz Codato, reforçando que a sigla não formou herdeiros.
Nem mesmo o PSol é considerado à altura para ocupar o vácuo deixado pelo provável encolhimento do PT. “O PSol é um partido de classe média intelectualizada, que não tem uma estratégia sistêmica para o ganho de votos”, avalia o cientista político Bruno Bolognesi, também da UFPR.
Ele destaca outro ponto que pesa contra o crescimento das siglas mais identificadas com o discurso de esquerda: o conservadorismo do brasileiro nas questões de costumes. É aí que a direita acaba preenchendo o espaço petista. “A direita se consolida menos no campo liberal econômico e mais no conservadorismo no campo moral”, avalia Bolognesi.
Para se ter uma ideia mínima, o PT tem uma cobertura territorial de mais de 95% do país. Que partido de esquerda pode hoje sonhar com isso?
Já na opinião de Codato, há até uma dificuldade política para implantar uma agenda liberal no país, como a proposta pelo Plano Temer. “O projeto é fazer reformas – trabalhista, previdenciária, fiscal – que os governos do PT não fizeram. Mas eu não sei se haverá condições políticas para retomar o projeto desde o ponto em que o governo Fernando Henrique Cardoso o deixou em 2002”, comenta.
Mas o foco no liberalismo e as promessas de reforma não devem bater de frente com alguns ganhos políticos do PT. “Os programas sociais devem ser mantidos. O eleitor se identifica muito com essas políticas e a direita não seria boba de acabar com isso da noite para o dia. O que haverá é um conservadorismo do ponto de vista moral”, diz Bolognesi.
Nessa linha, a tendência é que o PSD de Gilberto Kassab e o PSC de Jair Bolsonaro ganhem ainda mais representação política nos próximos anos.
Tendência
A volta ao poder de partidos mais conservadores do ponto de vista moral e um enfraquecimento das siglas de esquerda são uma tendência em toda a América Latina. Os últimos resultados eleitorais no Chile e na Argentina já indicam que a chamada “onda rosa” parece estar chegando ao fim. “As esquerdas pagam, não só eleitoralmente, mas também simbolicamente, o preço por desprezarem duas coisas essenciais: responsabilidade fiscal e controle da corrupção nos seus partidos”, diz Codato.
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