A prisão do pecuarista José Carlos Bumlai na 21.ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada na terça-feira (24), é mais um passo que aproxima a investigação do ex-presidente Lula. Apesar de ter ressaltado que não há provas que incriminem o petista (leia mais abaixo), o juiz Sergio Moro destacou o papel decisivo do amigo pessoal de Lula em “episódios criminosos” envolvendo o PT.
Na decisão de prender Bumlai, Moro considerou grave a acusação da Polícia Federal (PF) de que ele teria contraído empréstimos fraudulentos para pagar dívidas do PT. Para o juiz, o caso representa uma “afetação do processo político democrático”. “O mundo da política e o do crime não deveriam jamais se misturar”, disse o juiz no despacho da prisão.
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Segundo a PF, o pecuarista e pessoas ligadas ao Grupo Schahin são suspeitos de participação em um esquema de contratação da Schahin como operadora do navio sonda Vitória 10.000 da Petrobras, “com a concessão de vantagem indevida a empregados da Petrobras e ao Partido dos Trabalhadores”. A contratação seria uma compensação por um empréstimo no valor de R$ 12 milhões do Banco Schahin a Bumlai. O valor seria destinado a quitar dívidas do PT.
Essa não é a primeira vez que o nome de Lula se aproxima da Lava Jato (veja mais ao lado). Logo no início da operação, Ricardo Pessoa, dono da UTC e apontado como chefe do cartel de empreiteiras na Petrobras, foi identificado como amigo pessoal do ex-presidente. Em depoimentos de delação premiada, o empresário citou doações de R$ 2,4 milhões para campanhas eleitorais, mas não soube afirmar se Lula sabia da procedência do dinheiro.
Já o doleiro Alberto Youssef, um dos mais importantes delatores do esquema, afirmou em depoimento que, além de Lula, a atual presidente Dilma Rousseff (PT) tinha conhecimento dos desvios na estatal. A informação foi publicada pela revista Veja às vésperas do segundo turno das eleições do ano passado. A afirmação foi repetida pelo delator em acareações e depoimentos que ocorreram no decorrer da operação.
Outra delação premiada da Lava Jato que cita o ex-presidente Lula é a do operador do esquema Fernando Baiano. Ele disse que teria feito um pagamento de R$ 2 milhões a Bumlai, dinheiro que seria destinado à nora do ex-presidente. Baiano também teria dito que quitou gastos pessoais de Fábio Luis Lula da Silva, o Lulinha – filho do ex-presidente –, no valor de R$ 2 milhões, que teriam vindo do esquema da Petrobras.
Duas prisões da Lava Jato também respingaram no ex-presidente: a do ex-ministro José Dirceu, que já cumpria pena no caso mensalão, e do então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Conforme despacho de Moro, o tesoureiro teria recebido ao menos R$ 4,26 milhões em propina que teria sido depositada em forma de doação oficial ao diretório do partido. Já Dirceu, que foi homem de confiança de Lula, é apontado como idealizador do esquema.
O envolvimento de Lula com as empresas investigadas pela Lava Jato também é citado pela operação e chegou a ser alvo de inquérito na Procuradoria da República de Brasília – caso da suspeita de tráfico de influência no exterior praticado pelo ex-presidente a favor da construtora Odebrecht. Indiretamente, o petista também teria recebido verbas e “favores” das construtoras OAS e Camargo Corrêa.