Sandro Alex afirma que o clima é outro dentro do Conselho, já que o PT passou a ver Cunha como um inimigo após a decisão de abrir o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT).| Foto: HEDESON ALVES/HEDESON ALVES

O deputado federal Sandro Alex (PPS-PR) é vice-presidente do Conselho de Ética que atua sobre as denúncias contra o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O parlamentar falou à Gazeta do Povo sobre o trabalho do Conselho e sobre as tentativas do presidente da Casa de atrasar a votação sobre a admissibilidade da investigação – que pode cassar o seu mandato.

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Opinião: O dilema do impeachment

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Sandro Alex afirma que o clima é outro dentro do Conselho, já que o PT passou a ver Cunha como um inimigo após a decisão de abrir o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT). “O processo de Cunha e o do impeachment são dois processos diferentes e ambos têm legitimidade para acontecer”, disse.

O deputado também se encontrou com o Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para falar sobre as atitudes de Cunha. “Ele afirmou que está de olho em tudo e que o Ministério Público deve ser informado sobre o que acontece dentro da Comissão, já que não são fatos isolados”, disse. Sobre a atitude dos partidos nos processos contra Cunha e Dilma, Sandro Alex afirma: “Será um longo fim de semana”.

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A Conselho de Ética tem sido bastante conturbado e a decisão do PT em votar contra Cunha culminou na abertura do processo de impeachment. Como tem sido o trabalho dentro do Conselho?

O processo do deputado Eduardo Cunha é bastante complicado porque, para nós, é só um deputado. Perante a sociedade, não é um deputado qualquer: é a figura do senhor presidente, com todas as suas prerrogativas. Temos tido um grande cuidado, já que qualquer erro nosso recai sobre um questionamento. Sabemos que o processo já parou quatro vezes, mas poderia ser muito pior. Eles, até agora, postergaram muito o processo seguindo o regimento. É regimental que os deputados peçam vistas, mas isso é feito para tomar tempo. Alguns abusos nos preocuparam, como as discussões sobre a votação aberta. Um dos membros relatou que não estava nem com a faca no pescoço, mas com uma metralhadora. Há uma pressão muito grande e ainda estamos na fase da admissibilidade.

Qual é o clima do órgão após a atitude do presidente da Câmara?
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O PT se acirrou muito no processo e tem em Cunha a figura de um inimigo. Porém, mesmo a oposição, que tem o interesse no processo de impeachment e o apresentou junto com o Miguel Reale e com Hélio Bicudo, afirmou que não há negociação de favorecimentos no Conselho. Não há, com o meu partido e comigo nenhum tipo de acordo envolvendo um processo com o outro. Os partidos de oposição aguardavam isso há algum tempo, enquanto o governo tem a tese de que o processo está contaminado pela retaliação de Cunha. Mas é importante lembrar que o processo de impeachment não é do presidente Eduardo Cunha - apesar da decisão ter partido dele - mas da sociedade. Ele é representado e os dois processos tem legitimidade: ainda que seus protagonistas questionem a forma de sua apresentação.

Como deve votar o Conselho na próxima terça?

Temos sete votos abertos, mais os três votos do PT que foram públicos. O presidente [José Carlos Araújo (PSD-BA)] só vota se empatar, mas já afirmou que vota pela admissibilidade, então já são 11. Eu já declarei meu voto e não é pelo processo de impeachment que vou mudá-lo. Se por acaso acontecer de o processo ser arquivado, os deputados podem pedir a reabertura do processo no plenário e para isso precisa-se da assinatura de cerca de 50 parlamentares. Como o caso é muito notório, isso deve acontecer. Em tese, pelos votos abertos, a investigação deve continuar, mas vivemos tempos em que cada dia há um fato novo. Na terça-feira por exemplo, o governo se mostrava em defesa do representado e 24h depois declarou os votos contra. Tenho certeza de que será um fim de semana longo com muitas tratativas.

Como devem avançar as investigações em caso de aprovação no Conselho?

Na terça vota-se a admissibilidade. Será no máximo uma hora ou duas de discussão e havendo a admissibilidade, continuamos o processo. O Procurador-geral Rodrigo Janot informou que todo o processo contra Cunha será disponibilidade ao Conselho porque não está sob segredo de justiça. O Ministério Público da Suíça remeteu o processo ao Brasil e tudo isso será fornecido à Comissão. Algumas delações não entram pois estão em segredo de Justiça. Eu não vejo outra saída que não a investigação e essa votação é só o começo. Se houver trabalho no recesso, o que pode acontecer, o Conselho de Ética deve trabalhar também - até por um princípio de igualdade.

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O senhor se reuniu com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e afirmou que o questionaria com relação ao limite da atuação de Cunha perante ao Conselho. Qual foi a resposta?

Ele disse que as atitudes de Cunha não são um ato isolado. E afirmou: “Eu, para prender um senador em exercício [Delcídio Amaral (PT-MS)] precisei de 24h de discussões ininterruptas para se tomar aquela decisão, porque é necessário que se tenha robustez no pedido. Mas isso pode ser configurado a partir de uma série de atos. Me comuniquem, comuniquem o Ministério Público, relatem isso. Mas digo a vocês: estou acompanhando”. Janot disse que não tem poder para prender, mas ele pode pedir se assim o Supremo permitir.