Um crime encomendado e que teve motivação política. Foi esta a tese que o promotor Márcio Augusto Friggi de Carvalho sustentou, durante duas horas e meia, ao pedir a condenação dos três réus que estão sendo julgados nesta quinta-feira (10) pela morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel. O julgamento está ocorrendo no Fórum de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo.
Cinco acusados pela morte do prefeito seriam julgados, mas os advogados de defesa de Itamar Messias dos Santos Filho e Elcyd Oliveira Brito, conhecido como John, deixaram o plenário e tiveram seus julgamentos remarcados para o dia 16 de agosto.
Com isso, estão sendo julgados Ivan Rodrigues da Silva, conhecido como Monstro, Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, o Bozinho, e José Edison da Silva. O promotor pediu a condenação dos três por homicídio duplamente qualificado mediante pagamento e sem possibilidade de defesa para a vítima.
Para Carvalho, eles foram contratados por Dionísio de Aquino Severo (morto na prisão, em 2002), a mando do empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra. Segundo o promotor, Dionísio trabalhou como segurança na prefeitura de Santo André e conhecia o empresário.
Pela manhã, em depoimento, os três réus negaram participação no crime e disseram que só confessaram o sequestro e morte do prefeito sob tortura. O promotor negou a versão dos acusados, dizendo que há testemunhas e um laudo pericial descartando a tortura.
Para o promotor, a autoria do crime "é absolutamente irrefutável". "Não há dúvidas sobre o envolvimento deles no sequestro, arrebatamento e morte do prefeito", disse, em plenário. Segundo Carvalho, extratos telefônicos e depoimento de testemunhas comprovam que o prefeito não foi uma vítima equivocada de sequestro, conforme os acusados disseram anteriormente em depoimentos. "O sequestro foi simulado e Gomes [Sombra] ajudou".
O promotor ressaltou na sua acusação que "era preciso arquivar o prefeito", que havia descoberto que o esquema de corrupção instalado na prefeitura não estava somente abastecendo o caixa 2 do PT, com o qual ele concordava, mas também estava sendo utilizado para enriquecimento pessoal dos integrantes do esquema.
O prefeito, de acordo com Carvalho, estava elaborando um dossiê sobre o esquema e foi torturado antes de morrer para que dissesse onde estava o documento. "Ele foi submetido a uma situação de barbaridade antes de morrer", disse. Segundo o promotor, nenhum telefonema de resgate foi feito à família durante o sequestro, o que também atesta que o crime foi encomendado.
Celso Daniel foi sequestrado no dia 18 de janeiro de 2002, quando saía de um jantar com o amigo e empresário Sombra, que não foi levado pelos bandidos. O prefeito ficou em um cativeiro, em Juquitiba, próximo à Rodovia Régis Bittencourt, que liga São Paulo ao Sul do país, mas dois dias depois foi executado com oito tiros. Para o promotor, Sombra é o mandante do crime.
Sérgio Gomes da Silva é também réu no processo. O empresário, no entanto, não está sendo julgado, já que o seu processo foi desvinculado dos demais.
Passados dez anos do crime, Marcos Roberto Bispo dos Santos foi o único condenado até agora. Em novembro de 2010, Santos foi sentenciado a 18 anos de prisão. Neste caso, a Justiça reconheceu que a motivação para o crime foi política.