Os gritos de “Fora, Renan” traduziram o sentimento da população que foi às ruas protestar contra a corrupção, neste domingo (4). O movimento Vem Pra Rua estima que as manifestações ocorreram em 205 cidades, distribuídas em 18 estados mais o Distrito Federal. O estopim foi a aprovação, na calada da noite pela Câmara dos Deputados, de uma versão desfigurada do pacote anticorrupção proposto pelo Ministério Público Federal (MPF). Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, é visto como peça-chave para reverter as alterações. E é um dos principais algozes dos manifestantes.
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Pesa contra Renan o fato de que ele próprio é alvo de 11 investigações no Supremo Tribunal Federal (STF), entre elas oito relacionadas à Lava Jato. Além disso, ele se tornou réu esta semana, em acusação de peculado sem nenhuma relação com a operação. Calheiros ganhou até uma versão boneco inflável gigante, vestido com roupas de presidiário, na Avenida Paulista, em São Paulo.
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Também sobrou para o presidente da Câmara. O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) presidiu a sessão que aprovou a versão estraçalhada do pacote anticorrupção, na madrugada de quarta-feira (30). Além de excluir a criminalização do enriquecimento ilícito e a recompensa para quem denuncia crimes de corrupção, os deputados incluiram uma emenda que tipifica o crime de abuso de autoridade para magistrados e promotores de Justiça. A medida foi vista como um ataque direto à Operação Lava Jato.
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“As ruas hoje querem mandar um recado ao Senado Federal, entre tantas outras coisas. A proteção irrestrita à Operação Lava Jato. Não mexam com a Lava Jato! Ou a população se mobiliza violentamente. Temos que passar o Brasil à limpo”, resumiu a líder institucional do Vem Pra Rua em Curitiba, Gislaine Masoller. O movimento estima que 15 mil pessoas foram ao protesto, neste domingo, em frente à sede da Justiça Federal.
Líder nacional do movimento, Rogério Chequer abriu o protesto, na capital paulista, pedindo a saída de Renan Calheiros da presidência do Senado. “Isso é apenas um aperitivo do que faremos hoje. Seu método velho de fazer política acabou”, disse ele. “Acabou o impeachment e o povo está na rua, não vamos sair”.
No Rio de janeiro, pelo menos 600 mil foram à orla da praia de Copacabana, segundo os manifestantes. Agentes da segurança que acompanharam o protesto estimaram, extraoficialmente, 400 mil pessoas. Calheiros, Maia e o ex-presidente Lula foram alvos prioritários. Mas também sobrou para o presidente Michel Temer. “A imundície chegou a um ponto insuportável. Não adianta deixar o Temer, porque ele é vice da Dilma”, disse o militar reformado Hélio Marcus, da Força Aérea Brasileira.
Além da crítica ao Congresso, a defesa da Operação Lava Jato e de seus personagens ganhou força.
“Fora, Temer”?
As críticas ao presidente Michel Temer (PMDB) não ganharam tom de protagonismo nos protestos deste domingo. Mas surgiram aqui e acolá. Gislaine Masoller, do Vem Pra Rua em Curitiba, explica que houve um acordo entre todos os organizadores. “Não estamos nas ruas pedindo ‘Fora, Temer’, este não é o mote. Não é o momento. Ainda temos um Senado, um regime democrático”.
Por outro lado, a ideia é mandar um recado ao presidente. Se o pacote anticorrupção montado pela Câmara passar impune pelo Senado, segue para sanção presidencial. E, aí, “se o presidente não atender ao clamor da população, é um segundo momento”.
Menos manifestantes nas ruas
O número de pessoas que foi às ruas neste domingo foi reduzido, em comparação às manifestações que pediram o afastamento de Dilma Rousseff. No auge, em março deste ano, os organizadores estimaram que 3,5 milhões foram às ruas contra a ex-presidente. Em Curitiba, foram 200 mil na época, contra 15 mil neste domingo.
Para a líder do Vem Pra Rua em Curitiba, Gislaine Masoller, a comparação não faz sentido. “O impeachment é uma coisa que se arrastava há muito tempo, foi crescendo no imaginário popular”. Já o ataque às medidas anticorrupção propostas pelo MPF foi de ‘sopetão’. E a organização dos protestos foi feita às pressas. “Eram cento e poucas cidades no início da semana, e chegamos a 205”.
Mesmo assim, o número de pessoas que foi para as ruas foi muito menor do que se esperava, analisa o cientista político Emerson Cervi, da UFPR. “Em grande medida porque as grandes organizações que estavam apoiando as manifestações deixaram de apoiar, em especial as presidenciais”.
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