Mentor da Operação Satiagraha, o delegado da Polícia Federal (PF) Protógenes Queiroz disparou críticas ao ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso e ao governador de São Paulo José Serra, ambos do PSDB. Em entrevista concedida nesta quinta-feira ao portal de notícias UOL, Protógenes negou ter grampeado ilegalmente FHC e Serra durante as investigações e respondeu às críticas que foram feitas à sua conduta na operação da PF.
"Diga-se de passagem, acredito que a manifestação de FHC foi inadequada para um homem público. Ele tem responsabilidades inerentes e sabe de suas relações na estrutura do Estado e com o setor privado. Para uma pessoa que não acredita em Deus, é de se esperar que ele tenha esse tipo de atitude", disse. Há cerca de duas semanas, FHC afirmou que Protógenes é o "escutador geral da República", avaliou que o delegado passou dos limites e disse que ele era uma pessoa com equilíbrio precário.
Sem entrar em detalhes nem citar as denúncias de corrupção contra o ex-secretário adjunto de Segurança Pública Lauro Malheiros Neto, que culminaram no afastamento do secretário estadual de Segurança Pública Ronaldo Marzagão, Protógenes afirmou: "Acredito que a segurança pública do Estado retrata bem o que é hoje o governo Serra". E voltou a afirmar: "Em momento algum interceptei essa autoridade.
Questionado sobre o assunto há duas semanas, Serra negou-se a comentar a atuação de Protógenes. Quem falou sobre o tema em nome do governo foi o secretário estadual de Justiça, Luiz Antonio Marrey, que afirmou que o Ministério da Justiça não poderia se omitir em relação às suspeitas de espionagem de grampos ilegais realizadas por Protógenes. "Precisamos refletir sobre o papel que o Ministério da Justiça tem desempenhado e cobrar, como cidadãos, que não se permita que a Polícia Federal aja de maneira clandestina", afirmou. Ele disse também que a atividade seria tarefa de alguém "enlouquecido" e não pode haver messianismo de agentes públicos na apuração de crimes.
Na entrevista concedida ao portal UOL, Protógenes negou também ter grampeado a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, mas poupou a petista das críticas. "Isso não é verdade, é mentira, já rechaçada pela ministra, que foi a primeira autoridade a se indignar, publicamente, com tal informação falsa", ressaltou.
Indiciamento
O delegado disse que seu indiciamento, pela Polícia Federal, pelos crimes de violação da lei de interceptação e quebra de sigilo funcional foram um "equívoco" e que, a partir de agora, ele vai começar a estruturar sua defesa. Segundo ele, o inquérito que investigou sua atuação tinha o objetivo de apurar o vazamento de informações para a imprensa e o indiciamento não tratou dessa questão.
"Fui indiciado por violação de sigilo funcional, por compartilhar dados com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que faz parte do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), o que está dentro do arcabouço legal e constitucional do País", afirmou. De acordo com Protógenes, se o compartilhamento de dados entre Abin, PF e organismos internacionais foi considerado ilegal, mais de 160 operações da PF terão de ser reavaliadas. "É normal, legal e constitucional o compartilhamento de dados entre PF e Abin", reiterou.
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