Sem projeto, partido está em situação "desanimadora"
Claramente rachado internamente, sem um discurso sólido e sem um projeto alternativo de país capaz de atrair o eleitorado. A situação em que o PSDB nacional chega à sua convenção nacional hoje é desanimadora e preocupante, na visão de especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo. Para eles, os tucanos precisam deixar de se enfrentar como se fossem adversários e definir de maneira clara seu território de atuação. Eleitores para esse reerguimento do partido não são o maior problema, afirmam.
Desde a sua fundação, em 1988, o PSDB não vive momentos de tanta efervescência interna e é nesse clima de forte tensão entre suas principais lideranças que os tucanos realizam hoje a convenção nacional para reeleger o deputado Sérgio Guerra (PE) presidente da legenda. O senador e ex-governador mineiro Aécio Neves e o ex-governador paulista e candidato derrotado à Presidência por duas ocasiões, José Serra, disputam palmo a palmo a influência que terão no partido até 2014, data da próxima eleição para o Palácio do Planalto.
Para o líder do PSDB no Senado, o paranaense Alvaro Dias, parte dessa disputa interna se explica porque há colegas que querem antecipar a disputa pela indicação do candidato do partido à Presidência em 2014. "Não é bom definir candidatos agora", ponderou. Alvaro é defensor da criação do instrumento das prévias partidárias para definir os candidatos e chegou a apresentar no Senado um projeto que regulamenta as disputas internas dos partidos.
O presidente do PSDB em São Paulo, o deputado estadual Pedro Tobias, considera essa disputa precoce um "suicídio" para o partido. O dirigente é ligado ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que já concorreu à Presidência em 2006 e, dependendo do cenário político em 2014, também pode se firmar como alternativa tucana.
Guerra tem a difícil tarefa de montar a Comissão Executiva do partido dando espaços a todos os grupos políticos. Mas a disputa pública das últimas semanas chegou a sair do seu controle e colocou a convenção tucana inclusive sob risco de judicialização, caso Sérgio Guerra não consiga encontrar espaços para atender todos os interessados. Um setor do partido questiona a legalidade da segunda reeleição do deputado no comando da legenda, sob alegação de que há um parecer jurídico e que pode ser usado para interromper a convenção. "Isso não vai acontecer", disse Alvaro.
Na semana passada, Guerra afirmou que não cederia às pressões para escolher membros da Executiva apenas para atender às vontades de grupos do partido. "Nossa chapa jamais vai configurar a colagem de grupos antagônicos. Não serão os grupos que vão formar a nova chapa. Serão as forças do partido e suas bases de maneira que nós possamos ter ao final uma Executiva de total unidade", disse. Guerra quer evitar o fracionamento do partido, algo não muito simples neste momento, justamente por causa das pretensões eleitorais dos principais envolvidos nas negociações.
Serra x Aécio
O mais descontente no partido é Serra, que no começo das negociações não se interessou em comandar o Instituto Teotônio Vilela (ITV), entidade de estudos e formação política do partido, e agora articula para comandá-lo. A articulação é tardia na avaliação dos senadores tucanos, que indicaram o ex-senador cearense Tasso Jereissati para o posto. Guerra avisa que o instituto "não é órgão político, é órgão técnico".
O que está em jogo?
Entenda melhor a disputa interna do PSDB nacional:
Origem da crise
O ex-presidenciável José Serra rompeu com o atual presidente, Sérgio Guerra, após as eleições, e tentou evitar sua recondução. Sem nome alternativo, os serristas viram a candidatura de Guerra ser encampada por Aécio Neves. Agora, a disputa é pelos outros cargos.
Os grupos
Paulistas e aliados
Embora tenham desavenças históricas, Geraldo Alckmin e Serra estãomomentaneamente jogando juntos neste grupo, que é composto por:
Fernando Henrique Cardoso, Aloysio Nunes Ferreira e Jutahy Júnior
Aecistas
A cúpula atual do PSDB está próxima do projeto presidencial de Aécio:
Veja quem estpa neste grupo: Sérgio Guerra, Tasso Jereissati e Rodrigo de Castro
O que quer cada grupo
Os paulistas desejam a presidência do Instituto
Teotônio Vilella para José Serra e a secretaria-geral para um indicado do grupo.
Sérgio Guerra e Aécio oferecem a 1ª vice-presidência e o Conselho Político para Serra.
Os números da convenção
Filiados: 1,3 milhão
Delegados na convenção: cerca de 600
Vagas no diretório: 213
Quem é quem no partido
Quem ocupa os cargos hoje:
Presidência: Sérgio Guerra (deputado federal, PE)
1ª vice-presidência: Marisa Serrano (senadora, MS)
Secretaria-geral: Rodrigo de Castro (deputado federal, MG)
Vice-presidência executiva: Eduardo Jorge Caldas Pereira (DF)
Secretaria Executiva: Sérgio Silva (assessor ligado a Guerra)
Presidente do ITV: Luís Paulo Veloso Lucas (ex-deputado federal, ES)
Quem deve ser eleito:
Presidência: Sérgio Guerra
1ª vice-presidência: Aloysio Nunes Ferreira (senador, SP)
Secretaria-geral: Rodrigo de Castro
Vice-presidência executiva: Eduardo Jorge
Secretaria Executiva: Sérgio Silva
Presidente do ITV: Cúpula quer o ex-senador Tasso Jereissatti (CE); Geraldo Alckmin lançou
José Serra