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Apesar de a cúpula tucana não ter gostado do apoio da bancada ao líder do governo Lula Arlindo Chinaglia (PT-SP) na disputa à presidência da Câmara, analistas políticos ouvidos pelo GLOBO ONLINE acreditam que o PSDB fez um bom negócio. Adversário do PT, o PSDB garantiria, em troca, a presidência das assembléias legislativas de São Paulo, Minas e Bahia. Para os especialistas, a imagem do partido - que vem enfrentando uma crise de identidade durante o governo petista - não sai arranhada:

- O PSDB fez uma boa jogada, não tem nada a perder. O partido teve ganhos imediatos, que vão permitir maior sucesso dos governos de São Paulo e de Minas (cujos governadores, Serra e Aécio, são potenciais candidatos à sucessão presidencial em 2010). Temos que olhar do ponto de vista da governabilidade. E o governo Lula também ganha. Com o clima mais ameno, devemos ter a aprovação de projetos importantes - avalia Fernanda Machiavelli, da Tendências Consultoria.

Na opinião do cientista político Marcos Figueiredo, do Iuperj, o apoio dos tucanos ao petista não deve ser entendido como adesão ao governo.

- É razoável, principalmente no nosso sistema multipartidário. Para se ter convívio político, acordos são feitos. As circunstâncias permitem esse tipo de acordo. Em suas posses, Serra e Aécio criticaram o governo Lula. O que eles estão fazendo é política de boas vizinhas, que é de interesse dos dois lados. Assim como nos bons acertos no caso da segurança e programas de infra-estrutura. Isso tudo está mais do lado da competência e inteligência política do que uma adesão ao governo de Lula - analisa.

Para os especialistas, o racha no partido, porém, torna mais evidente sua "crise de identidade".

- O PSDB está totalmente desorientado. Do ponto de vista ideológico, PSDB seria aliado do PT. As orientações econômica e social do partido estão incorporadas no governo Lula. Ser oposição para manter essas doutrinas é complicado. O partido fica sem saber para onde ir. Muita coisa que o Lula está fazendo hoje foi o Fernando Henrique que começou - explica Figueiredo.

A comentarista de política Lucia Hippólito vai além e acredita que o partido vem perdendo o seu discurso.

- Com o apoio a Chinaglia, o PSDB perde a nitidez, perde o rumo mais uma vez. Vira um partido igual aos outros. Perdeu o rumo desde que perdeu as eleições em 2002. Não tem programa, não tem projeto, perdeu a bandeira da estabilidade para o Lula. É um ajuntamento de gente, muito parecido com o PMDB, de onde saiu por questões éticas. Não tem um discurso afinado - afirmou ela na rádio CBN, lembrando que, em contrapartida, "o PSDB deu de presente ao PT força e prestígio político".

A busca do partido por uma nova roupagem para as eleições de 2010 - com um tom mais popular e menos elitista - dificilmente será alcançada, na avaliação do professor do Iuperj.

- O PSDB é elitista e sempre será. O partido foi criado de cima para baixo, por uma elite política. Não é partido de massa e nunca será. Pode ter muitos filiados, mas nunca chegará ao nível do PT e do PMDB - aposta Figueiredo.

Enquanto o PSDB procura seu rumo, a eleição na Câmara caminha com Chinaglia como favorito. Com os apoios de tucanos e peemedebistas, o atual presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que tenta a reeleição, é considerado praticamente "carta fora do baralho", segundo analistas. Porém, os especialistas lembram que, como o voto é secreto, não há garantias nos acordos firmados:

- Possivelmente, Aldo é carta fora do baralho. Pois Chinaglia passa a ter o apoio dos três maiores partidos (PT, PMDB e PFL). Ainda que haja dissidências internas, é um apoio extremamente forte. Mas não dá para garantir nada. Afinal de contas, a votação é secreta - diz Figueiredo.

A analista da Tendências concorda:

- Com os apoios a Chinaglia, as chances de Aldo caíram. Por ora, está favorável ao petista. Agora, no Congresso, tem que ter margem de incerteza. Como o voto é secreto, minorias tendem a seguir próprios passos.

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