Relator pede investigação de André Vargas, mas PT manobra e adia votação
O relator do processo contra o deputado licenciado André Vargas (PT-PR), deputado Júlio Delgado (PSB-MG), apresentou parecer favorável para que o Conselho de Ética da Câmara investigue as relações de Vargas com o doleiro preso Alberto Youssef. O relatório preliminar é o primeiro passo para que o colegiado inicie as investigações para decidir se houve quebra de decoro parlamentar por parte de Vargas. No entanto, o conselho precisa primeiro aprovar o parecer apresentado nesta terça.
A votação será feita na próxima sessão, no dia 29 de abril, porque o deputado Zé Geraldo (PT-PA) pediu vista do processo. "Quero deixar claro que isso não é uma posição do meu partido. É uma decisão minha", frisou. Ao deixar a comissão, Zé Geraldo admitiu que atendeu a um requerimento do deputado licenciado do PT do Paraná para protelar a discussão sobre o parece preliminar. "A situação do André não é confortável. Ele está querendo esse tempo e esse tempo está sendo dado a ele", afirmou.
Ascensão e queda
Em 15 anos de vida pública, André Vargas subiu postos na hierarquia política em velocidade pouco comum:
Líder local
Em Londrina, Vargas atuou em um projeto social, foi assessor de políticos e ocupou um cargo de chefia na prefeitura. Foi eleito vereador, deputado estadual e federal. Era a maior liderança política do município, graças à sua influência no governo federal. Trazia pelo menos 150 mil votos na bagagem.
Referência regional
Terceiro deputado federal mais votado em 2010, Vargas já foi presidente do PT do Paraná. Tinha portas abertas em centenas de municípios. Era um dos cabeças da pré-campanha da senadora Gleisi Hoffmann ao governo do estado e desejava disputar uma vaga no Senado.
Influência nacional
No primeiro mandato na Câmara, Vargas caiu nas graças do então presidente Lula ao relatar a medida provisória do Minha Casa, Minha Vida. Em 2010, se tornou secretário nacional de Comunicação Social do PT. Passou a integrar a lista anual dos 100 mais influentes do Congresso. Primeiro vice-presidente da Câmara desde o ano passado, articulava para chegar à presidência da Casa em 2015.
Em reunião ocorrida em Brasília na manhã desta terça-feira (22) dirigentes do PT avisaram o deputado licenciado André Vargas (PT-PR) que, se ele não renunciar ao mandato, será expulso do partido. Vargas resistiu e desafiou a cúpula petista. "Não renuncio. Agora vou até o fim e vou fazer o meu sucessor na vice-presidência da Câmara", afirmou, numa referência ao deputado Luiz Sérgio (RJ). O presidente do PT, Rui Falcão, disse a Vargas que as denúncias de irregularidades envolvendo o nome dele desgastam ainda mais a imagem do partido, já abalada com o escândalo do mensalão. "Você já deveria ter renunciado para evitar tudo isso", afirmou Falcão em tom duro.
A reunião, na sede do PT, foi marcada pela tensão. A portas fechadas, o presidente do PT pediu a Vargas que abra mão do mandato para não prejudicar o partido e as campanhas eleitorais de Alexandre Padilha ao governo de São Paulo; de Gleisi Hoffmann à sucessão no Paraná e da própria presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição.
Diante da resistência de Vargas - que levou para a reunião os deputados José Mentor (SP) e Luiz Sérgio (RJ) -, dirigentes petistas deixaram claro não haver dúvida sobre sua expulsão do PT, uma vez que o caso já está com a Comissão de Ética da legenda. Vargas também é alvo de processo no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, que investiga suas ligações com o doleiro Alberto Youssef, preso pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, por suspeitas de lavagem de dinheiro e outros crimes. "Nós sabemos que você não vai conseguir sustentar sua versão dos fatos no Conselho de Ética e no plenário da Câmara", disse Falcão a Vargas. "Ele tem o direito de se defender e nós vamos ajudá-lo", rebateu Mentor. Nos bastidores do partido e do governo, Luiz Sérgio, Mentor e o deputado Cândido Vaccarezza (SP) são chamados de "tropa de choque" de Vargas.
Protelação
A pedido do deputado licenciado, o petista José Geraldo (PA) apresentou, na tarde desta terça, pedido de vista no processo disciplinar contra o ex-vice-presidente da Câmara. Com a manobra ele conseguiu ganhar tempo e adiar a análise do caso para o dia 29 (leia ao lado).
Pressionado pelo PT e por ministros, Vargas só renunciou até agora à vice-presidência da Câmara. Integrante da corrente "Construindo um Novo Brasil", majoritária no partido, ele está disposto a fazer de Luiz Sérgio o seu sucessor, desafiando o grupo de Rui Falcão, que prefere no cargo o deputado José Guimarães (PT-CE).
Ainda nesta terça, Falcão fará relato da conversa com Vargas à presidente Dilma, com quem se reunirá à noite, no Palácio da Alvorada, juntamente com outros coordenadores da campanha. Para o líder do PT na Câmara, Vicente Paulo da Silva (SP), o Vicentinho, Vargas está cometendo um "grande erro" ao expor o partido, o governo e seus candidatos. "Ele vai ficar sangrando em praça pública", disse Vicentinho, que também participou da reunião de hoje com Vargas. "Esperamos que ele volte atrás."
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