O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e petistas passaram o dia de ontem trocando acusações. Em reportagem da revista Veja do último domingo,o ministro afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou influenciar Mendes a adiar o julgamento do mensalão. Em troca, o presidente teria oferecido apoio de aliados para blindar o ministro na CPMI do Cachoeira.
Em um vídeo de dois minutos, o presidente do PT, Rui Falcão, pediu união da militância petista para "desbaratar" o episódio narrado por Mendes, que classificou como uma manobra da oposição para tirar o foco da possível convocação do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), pela CPMI do Cachoeira. Falcão diz que Perillo estaria "envolvido em graves denúncias de participar da organização criminosa".
O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), também saiu em defesa de Lula e fez ataques a Mendes. "Eu não acredito que o presidente Lula tenha expressado ou tratado o assunto como foi relatado pelo ministro. Eu tenho dúvidas sobre o comportamento do ministro que só veio tratar disso um mês após a reunião", afirmou Maia.
Ministro
Do outro lado dessa discussão, Gilmar Mendes também partiu para o ataque. O ministro afirmou que o ex-presidente Lula seria a "central de divulgação" de intrigas contra ele e que a tentativa de envolver seu nome no esquema do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, tem como objetivo "constranger o tribunal" para "melar o julgamento do mensalão".
"O objetivo [de ligar meu nome ao de Cachoeira] era melar o julgamento do mensalão. Dizer que o Judiciário está envolvido em uma rede de corrupção. Era isso. Tentaram fazer isso com o Gurgel e estão tentando fazer isso agora", afirmou o ministro, fazendo referência às críticas recebidas pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, por ter segurado investigação, em 2009, sobre a relação entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO).
Visivelmente irritado e com o tom de voz alterado, Mendes disse que foi alvo de "gângsteres", "chantagistas" e "bandidos", que estavam "vazando" informações sobre um encontro que teve com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), em Berlim. A viagem teria acontecido após Cachoeira disponibilizar um avião ao senador.
"Não viajei em jatinho coisa nenhuma. Vamos parar com fofoca. A gente está lidando com gângsters. Vamos deixar claro: estamos lidando com bandidos que ficam plantando essas informações", disse o ministro, que apresentou notas e cópias de suas passagens aéreas emitidas na TAM pelo Supremo Tribunal Federal.
O ministro disse que nunca voou em avião de Cachoeira, mas que por duas vezes viajou em aeronaves cedidas pelo senador Demóstenes. As duas viagens, segundo Mendes, foram de Brasília para Goiânia e realizadas em aviões de empresas de táxi aéreo.