Nem todo o dinheiro do potencial construtivo de Curitiba se perderá em um estádio destinado a receber quatro jogos da Copa do Mundo. A prefeitura assinará decreto nas próximas semanas transformando o antigo quartel da Rua Riachuelo em Unidade de Interesse de Preservação. A partir daí, o prédio poderá receber verbas de construtoras interessadas em erguer prédios com mais andares do que prevê a lei municipal.
No total, R$ 6 milhões serão usados para reformar o prédio, que será um centro cultural, provavelmente chamado Cine Passeio. Lá serão reabertos um novo Cine Ritz e um novo Cine Luz. Para quem não lembra, os dois cinemas originalmente ficavam na Rua XV. O Ritz, numa galeria do calçadão, fechou em 2005, no primeiro ano do mandato de Beto Richa como prefeito. O Luz fechou em 2009, inaugurando o segundo mandato do prefeito.
Curitiba chegou a ter cinco cinemas públicos no anos 1990. Além desses dois, havia a Cinemateca, o Groff (também na XV) e o Guarani, no Portão. O único que estava aberto até a semana passada era a Cinemateca, última representante de uma era de cinemas de rua na cidade. Na sexta passada, o Guarani reabriu. Agora, até o fim do ano, supostamente, começam as obras de mais duas salas.
O Guarani, único dos cinemas públicos em bairro, reabriu junto com o antigo Centro Cultural do Portão, que estava fechado desde 2006 (por que as obras precisam demorar tanto?). Agora, chama Portão Cultural. O nome não importa. O que importa é que toda a região passa a contar com teatro e biblioteca, além de exposições. A reforma do centro custou outros R$ 6 milhões.
Tudo isso pode parecer muito dinheiro em uma cidades com tantos problemas para resolver: falta de creches, deficiência no atendimento médico de especialidades, valetas a céu aberto, favelas gigantescas. Mas cuidar de cultura também é obrigação do município, embora muitas vezes o assunto fique em segundo ou terceiro plano.
O dinheiro investido nos centros culturais é menos da metade, afinal de contas, do que a verba que a prefeitura vai investir em melhoria de calçadas de bairros chiques. São R$ 28 milhões para colocar floreiras e enterrar a fiação elétrica da Avenida Batel e de outras ruas com moradores de classe alta. Usar 40% disso para que a população possa conhecer um pouco mais sobre o mundo a baixo custo é quase nada.
A cidade está repleta de cinemas. São multiplex, com telas de primeira e até tridimensionais. Mas os cinemas públicos têm outra função. Assim como bibliotecas públicas, são feitos para que todo mundo, e especialmente quem não está nadando em dinheiro, possa conhecer boa produção cultural. Promover a igualdade de oportunidades, inclusive culturais, é papel do Estado. Só assim todos terão chances iguais de se desenvolver intelectualmente.
Durante muito tempo, a prefeitura havia se especializado em fechar portas de locais públicos. De uns tempos para cá, houve uma onda de reinaugurações: desde a Capela Santa Maria até o teatro Novelas Curitibanas voltaram à cena. É uma pena que fique a sensação de tempo perdido. Poderíamos ter mantido tudo isso e hoje sonhar com algo mais. Mas, pelo menos, estamos recuperando o que perdemos. Não é pouca coisa.
Congresso prepara reação à decisão de Dino que suspendeu pagamento de emendas parlamentares
O presente do Conanda aos abortistas
Governo publica indulto natalino sem perdão aos presos do 8/1 e por abuso de autoridade
Após operação da PF, União Brasil deixa para 2025 decisão sobre liderança do partido na Câmara
Deixe sua opinião