O timming da mais ofensiva da Lava Jato suscita de imediato uma questão, considerando o avanço do processo de impeachment contra a presidente Dilma: quem é mais atingido pela operação da Polícia Federal?
Até que sejam conhecidos os detalhes da ação, é impossível afirmar com 100% de certeza. Mas as primeiras informações indicam que todos os lados são atingidos.
Com pelo menos sete políticos envolvidos até o momento, o PMDB é ferido mortalmente pela operação. Os vários PMDBs, diga-se. E Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é o alvo óbvio.
Denunciado à Justiça, flagrado com contas na Suíça não declaradas, a um passo de responder a processo de cassação e, agora, alvo da varredura da PF em pelo menos três endereços, Cunha não tem mais condições de presidir a Câmara. Depois de hoje, fica difícil imaginá-lo comandando uma sessão normalmente, que dirá um processo de impeachment.
Parece um presente de aniversário de Dilma, com algumas horas de atraso, mas a verdade é que Dilma não tem o que comemorar.
Dois de seus ministros peemedebistas também foram alvos de busca e apreensão: Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia). Este último, diga-se, foi indicado pelo ex-líder do PMDB Leonardo Picciani no jogo de barganha que Dilma insiste em dizer que não pratica, mas que foi posto em prática para que ela tentasse reconstruir alguma base anti-impeachment no Congresso.
E, principalmente: seu maior aliado neste momento, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também foi atingido duramente pela ação da PF, mesmo que não tenha recebido a visita de agentes em sua porta. Dois de seus principais aliados, já envolvidos nas investigações da Lava-Jato, foram alvo de busca e apreensão. São eles: o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
Aníbal é acusado por delatores de ser interlocutor de Renan num esquema de cobrança de propina na Petrobras. Machado, também envolvido nas investigações, foi indicado por Renan ao cargo, do qual foi obrigado a se afastar para não estancar o sangramento do presidente do Senado, que só pensa em se proteger das garras da Lava-Jato.
Atingido, ainda que indiretamente, Renan continuará a apoiar Dilma? O Senado é fundamental no julgamento do impeachment. É responsável pelo julgamento da presidente e, a depender do que dirá o STF amanhã, também dará aval para continuidade ou não do processo.
Em resumo, como se vê, todos perdem. E muito.