A indicação do jurista Luiz Edson Fachin para o Supremo Tribunal Federal (STF) produziu um raro consenso na política paranaense. Uniu petistas e tucanos, sobrenomes historicamente rivais (Richa, Requião e Dias), a totalidade das bancadas estadual e federal, além dos chefes dos três poderes, do Ministério Público, do Tribunal de Contas, os reitores da UFPR e PUCPR e até o comando da Federação Paranaense de Futebol. Provinciana para alguns, extraordinária para outros, a mobilização pesou para a aprovação de Fachin, por 20 votos a 7, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.
Coalizão
Veja os políticos e entidades do Paraná que apoiam a indicação de Fachin ao STF:
Leia a matéria completaNa terça-feira (12), a “força-tarefa” com mais de 50 paranaenses chegou cedo ao Congresso e fez fila na entrada da CCJ uma hora antes da reunião, que se estendeu por mais de 12 horas. A maioria foi barrada, inclusive o presidente do Tribunal de Justiça, Paulo Vasconcelos, que precisou argumentar com a polícia legislativa para conseguir uma cadeira entre as autoridades. “Estão achando que vão ganhar no grito”, reclamava pelos corredores o assessor de um senador de oposição declaradamente contra a indicação do professor.
O grosso do grupo acabou se espalhando por outros dois plenários com telões que transmitiram a sabatina ao vivo. Nessas salas, o clima era de final de Copa do Mundo. Cada intervenção favorável a Fachin era comemorada, mas também houve manifestações de grupos contrários, formados por militantes de recentes protestos contra a presidente Dilma Rousseff e o PT.
Pouco antes das 10 horas, quando começou a sessão, o governador Beto Richa (PSDB) e a vice, Cida Borghetti (Pros), entraram na CCJ e cumprimentaram os senadores presentes. Richa dedicou mais tempo aos tucanos Cassio Cunha Lima e Aloysio Nunes. Uma semana antes, a dupla havia defendido Richa durante audiência pública na Comissão de Direitos Humanos, que discutiu a repressão policial contra professores de 29 de abril. Dessa vez, no entanto, compuseram a linha de ataque contra Fachin.
Tanto o governador quanto o senador Alvaro Dias atuaram para embaralhar a polêmica gerada pelas ligações de Fachin com o PT. Alvaro frisou que o jurista foi advogado de campanha de José Richa (pai de Beto e um dos fundadores do PSDB), em 1982, e que fez campanha a favor de Mário Covas (PSDB) contra Lula (PT), em 1989. “Se o Paraná é uma província, é uma província unida em torno de Fachin pelas suas qualidades”, disse o senador tucano.
“A indicação de Fachin não é um consenso, ela é uma unanimidade paranaense”, declarou depois o senador Roberto Requião (PMDB). Unir um Richa, um Dias e um Requião em torno da mesma questão não é tarefa fácil – desde 1990, as três famílias disputaram entre si todas as eleições para o governo do estado. Apesar de serem do mesmo partido, Alvaro e Beto nunca se acertaram.
Um quarto ingrediente controverso do caldeirão pró-Fachin é o PT, da senadora Gleisi Hoffmann. Acusada por Richa de “boicotar” sua primeira gestão, Gleisi é apontada em Brasília como “inventora” de Fachin. Teria sido ela quem colocou o professor no circuito de ministeriáveis, ainda na gestão Lula.
No círculo jurídico, advogados de todos os cantos do Paraná (muitos deles, ex-alunos de Fachin) atuaram como mensageiros nos debates da “rádio-corredor”. A cada tema polêmico que entrava em pauta (doações eleitorais, Lava Jato, direito à propriedade, legalização do aborto), havia alguém argumentando com um assessor. Ou promovendo bolões sobre o resultado da votação, sempre com larga vantagem a favor do jurista.
“Fachin convenceu porque teve a paciência de um Gandhi”, diagnosticou o também professor da UFPR René Ariel Dotti. Outro advogado, de Maringá, fez troça com a própria mobilização. “Pela quantidade de paranaenses que tem aqui, o estado deve ser o que tem mais gente que precisa de uma forcinha no STF”, disse. Além de causas constitucionais, o Supremo é a instância que julga todos os processos contra deputados federais e senadores.
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