O agrônomo Moacir Roberto Darolt, 41 anos, faz parte de uma categoria ainda rara de morador de Curitiba o que fez da cultura alimentar um estilo de vida. Técnico do Instituto Agronômico do Paraná (IAP) e doutor em Meio Ambiente, ele tem contato direto com a produção agrícola no estado. Mas é do tipo que leva serviço para casa. Há 15 anos. Foi em 1993 que ele participou da criação da Associação dos Consumidores Orgânicos (Acopa), grupo de 15-20 pessoas que, meio sem querer, acabou desenvolvendo uma pauta original e barata para a área de alimentação.
O grupo de Darolt é um sinal de que os políticos podem encontrar na sociedade organizada a porta de saída dos grandes dilemas urbanos. Hoje, entre participantes e simpatizantes, 600 pessoas aumentam sua cultura alimentar o que interfere diretamente nos gastos da saúde ao ler o material produzido pela Acopa, participar de uma das nove feiras de orgânicos da capital ou de cursos de alfabetização orgânica, além de embarcar num dos inúmeros passeios que a associação promove a alguma das 37,7 mil propriedades rurais da região metropolitana. Não é nada e a iniciativa está neutralizando um dos maiores entraves das políticas de segurança alimentar: a ignorância sobre a cadeia de produção de frutas e verduras. "Tem quem colha um pé de alface nessas roças e perceba que é possível reatar os laços com o campo e com a alimentação saudável", diz Darolt. Não é conversa de natureba. Dados da Secretaria Municipal de Abastecimento mostram que 20 mil pessoas passam semanalmente pelas feiras de orgânicos da capital. Estima-se que 50% dos 26 municípios da RMC sejam de área de agricultura. A Emater calcula que a atividade mobilize 120 mil pessoas.
Para Moacir Darolt, uma política alimentar que se preze deve dar mais informação para os consumidores. Ele pergunta, por exemplo, se alguém sabe por quantas pulverizações passa o tomate? Tampouco existem estudos sobre os efeitos dos defensivos na população que compra hortaliças nos supermercados. "A certificação do orgânico é rigorosa. O mesmo não se aplica aos outros tipos de agricultura", lamenta o cientista.
Darolt não é uma voz solitária. O geoagrônomo Nicolas Floriani, 33, professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, acaba de defender, com todos os louros, uma tese de doutorado na UFPR sobre a rede de agroecologia na região metropolitana. O longo estudo de Floriani resultado de quatro anos de acompanhamento rural em Rio Branco do Sul deveria ter seus princípios estampados em outdoors: os movimentos sociais não são ouvidos sobre as demandas alimentares da população, em especial a favelizada. E os saberes dos agricultores estão sendo subtraídos pelo avanço da área urbana. "Para a cidade, o espaço rural é funcional. Já há agricultores escravizados pela produção intensiva. Não há um olhar para a agricultura", protesta, sobre o elemento estranho aos carros e prédios, mas que pode ser a salvação da lavoura. A advogada Maria Rita Reis, da ONG Terra de Direitos, lança a proposta: que o poder público gere dados sobre segurança alimentar. "Não vai dar para enfrentar a alta de alimentos com sacolões e assistencialismo. Está na hora de organizar a sociedade em torno da alimentação."
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