Uma crise entre Brasil e Itália foi aberta com a decisão do ministro da Justiça, Tarso Genro, de conceder status de refugiado ao italiano Cesare Battisti, condenado a prisão perpétua em seu país por ações que provocaram a morte de quatro pessoas quando militava em uma organização de extrema-esquerda.
Em comunicado oficial divulgado ontem, o Ministério de Assuntos Estrangeiros da Itália disparou uma ameaça velada à presença do Brasil na próxima reunião de cúpula do G8 (os sete países mais ricos e a Rússia), em julho, na Sardenha.
Ao expressar "surpresa" e "pesar" com a decisão, o governo italiano informou que apelará diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Porém, o Palácio do Planalto não vai desautorizar Genro. O ministro anunciou sua posição sobre o caso a Lula na segunda-feira e recebeu sinal verde.
Na avaliação de Genro, o italiano, que nega o envolvimento em assassinatos, pode não ter tido o direito a ampla defesa, já que foi condenado à revelia - sem estar presente ao julgamento - depois que seu ex-companheiro Pietro Mutti, beneficiado pelo sistema de delação premiada, o acusou de ter cometido os quatro crimes.
Segundo Genro, também há indícios de que o advogado que defendeu Battisti na Itália tenha se utilizado de uma procuração falsificada.
Nos anos 70, Battisti atuou no grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), ligado às Brigadas Vermelhas. Ele chegou ao Brasil em 2004. Nos anos 80, viveu na França, favorecido por uma política do então presidente François Mitterrand, que acolheu extremistas que se comprometeram a abandonar a luta armada.
Com a eliminação desse benefício pelo sucessor de Mitterrand, Jacques Chirac, Battisti deixou o país. Preso no Rio de Janeiro em 2007, ele enfrentava processo de extradição no Supremo Tribunal Federal (STF). Com o status de refugiado, pode ser solto ainda hoje.
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