A aprovação do impeachment no Senado e o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) marca apenas o começo dos desafios que deverão ser enfrentados pelo agora presidente interino Michel Temer (PMDB).
Além de assumir o governo em meio a crise política e econômica, Temer tem desafios dentro do próprio partido que vão precisar de atenção daqui para a frente.
Um dos desafios é a relação com o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB), conhecido desafeto de Temer. Calheiros é conhecido como aliado da presidente afastada Dilma Rousseff. Ao contrário do presidente da Câmara à época da votação do impeachment Eduardo Cunha (PMDB), Calheiros não apressou o processo de impeachment.
Enquanto a votação na Câmara ocorreu em um domingo, em que as ruas de todo o país estavam tomadas de manifestantes contra o governo pressionando os deputados, a votação no Senado ocorreu durante a semana, sem grandes alardes, e com a votação no início da manhã.
Apesar disso, Calheiros decidiu passar por cima de uma manobra para tentar barrar o impeachment no Senado. Nessa semana o presidente interino da Câmara Waldir Maranhão (PP) tentou anular a votação na Câmara, mas o presidente do Senado ignorou a decisão e decidiu manter a votação na Casa normalmente.
Mesmo tendo um papel importante para a aprovação do impeachment, a relação entre Calheiros e Temer pode ser um problema para o governo do peemedebista. Os dois já tiveram desentendimentos públicos mais de uma vez.
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Leia a matéria completaEpisódios como a articulação política assumida por Temer no ano passado; a acusação de Calheiros de que o vice-presidente teria sido responsável por parte da crise política que o país atravessa; a carta enviada por Temer à presidente Dilma dizendo que se sentia apenas um “vice-decorativo” no governo da petista; a briga pela troca da liderança na Câmara dos Deputados e outras acusações mostram que o relacionamento entre o Planalto e o Senado pode ser complicado em um governo Temer.
Histórico de desentendimentos
Os ânimos começaram a se exaltar entre os dois peemedebistas quando o vice-presidente Michel Temer, naquela época ainda presidente do PMDB, assumiu a articulação política da presidente Dilma. Calheiros criticou a atuação de Temer por distribuir cargos em troca de apoio, dizendo que o PMDB não deveria ser “coordenador de RH”.
“O pior papel que o PMDB pode fazer é substituir o PT naquilo que o PT tem de pior que é no aparelhamento do Estado. [...] O PMDB não pode transformar a coordenação política, sua participação no governo, em uma articulação de RH, para distribuir cargos e boquinhas. Eu acho que isso tudo faz parte de um passado do Brasil que nós temos que cada vez mais deixa-lo para trás”, atacou Calheiros.
Em dezembro do ano passado, Calheiros chegou a responsabilizar Temer por parte da crise política enfrentada pelo país. “O governo tem culpa, mas o PMDB também tem muita culpa com o que está acontecendo”, disse Calheiros. “O presidente Michel [Temer] é o presidente do partido. Se alguém tem responsabilidade com relação a isso, é o presidente Michel”, disse à época o senador.
Calheiros também criticou a carta enviada por Temer à presidente Dilma Rousseff (PT) no ano passado, em que reclamava por ser considerado um ‘”vice decorativo” na gestão da petista. “A maior crítica que cabe a ela é que, em nenhum momento, ela demonstra preocupação com o Brasil”, disse o presidente do Senado sobre o episódio.
“É urgente fazer um governo de salvação nacional”, diz Temer
Leia a matéria completaO presidente do Senado chegou a pensar em escrever uma nota chamando Temer de “mordomo de filme de terror” e dizendo que o vice havia trocado de emprego, tendo virado carteiro, mas desistiu da ideia ao conversar com outros senadores próximos.
O presidente do Senado também não gostou da decisão do partido de barrar filiações consideradas “oportunistas” no final do ano passado. A decisão foi uma estratégia para distanciar o PMDB do núcleo central do governo Dilma. Temer trabalhou para a destituição do ex-líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ) e deu aval à escolha do novo líder, Leonardo Quintão (MG). Para Calheiros, como presidente do partido, Temer deveria ter sido imparcial no episódio.
“Fazer reunião para proibir. Um partido democrático, que não tem dono, que se caracteriza por isso, fazer reunião para proibir a entrada de deputado é um retrocesso que deve estar fazendo o doutor Ulysses tremer na cova”, criticou Renan ao fazer referência a um dos principais líderes que o partido já teve, Ulysses Guimarães.
Em resposta, o PMDB – presidido por Temer - divulgou uma nota dizendo que o partido não tem donos, nem coronéis. “É correta a afirmação de que o PMDB não tem donos. Nem coronéis”, dizia a nota. O texto dizia que qualquer peemedebista sabe que Ulysses morreu em um acidente aéreo e seu corpo nunca foi encontrado. A nota ainda pedia “respeito à história e memória” de Ulysses e afirma que seria melhor evitar envolver seu nome em discussões que “em nada enobrecem seu exemplo de retidão e nobreza”.
Calheiros não deixou por menos e afirmou que Temer se “desfez da concepção de coronel, apesar de ter proibido a entrada de deputados no PMDB”. “Ele se desfaz, ao dizer que não tem coronel, ele se desfaz da pecha de coronel”, disse.
Depois de uma reviravolta, porém, Picciani retornou ao cargo de líder do partido na Câmara. Calheiros aproveitou a situação para voltar a alfinetar o vice-presidente. “Essa decisão da bancada [o retorno de Picciani] é uma demonstração que, por mais que o Michel quisesse ser coronel, ele não conseguiria. Tem que decidir sobre a vontade das pessoas, não basta distribuir cargo para isso”, disse Renan, em alusão à crítica que já havia feito de que, quando Temer assumiu a coordenação política do governo.
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