Um impasse foi criado no Conselho de Ética do Senado nesta sexta-feira (15) na votação do relatório que pede o arquivamento do processo contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sobre o suposto apoio financeiro que recebeu de um lobista para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha de três anos.
Com medo de perder a votação, Renan não quis arriscar e liberou seus aliados a aceitarem o adiamento. O relator do processo contra Renan, Epitácio Cafeteira (PTB-MA), no entanto, não gostou da proposta e disse que se afastaria do conselho se a votação ficasse para depois. "Eu condeno o desejo do senador Renan", afirmou. "Não ficarei desmoralizado", disse.
Com o impasse, o presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC), decidiu consultar os líderes partidários para tomar uma decisão.
Pela proposta de Renan, a votação do relatório ocorreria somente na semana que vem, provavelmente na terça-feira (19), após perícia em cima dos novos documentos apresentados por ele para rebater reportagem do Jornal Nacional de quinta-feira (14) que mostra divergências nos recibos de rendimentos rurais apresentados pelo presidente do Senado para comprovar a origem do dinheiro da pensão.
A solicitação de adiamento foi feita pelo líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), a pedido de Renan, durante a sessão do conselho, embora alguns aliados do presidente da Casa tenham criticado a atitude.
A postura do presidente do Senado em recuar e propor o adiamento ocorreu depois de perceber o risco de não conseguir aprovar nesta sexta o relatório de Cafeteira.
A oposição, que apresentou relatórios paralelos para continuar as investigações, torce para reverter o cenário nesta sexta. Com um placar apertado a seu favor, o presidente do Senado teme, por exemplo, perder os votos dos aliados Eduardo Suplicy (PT-SP) e Renato Casagrante (PSB-ES), que sinalizaram nesta manhã a possibilidade de ficar ao lado da oposição, além de não contar com o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), que não compareceu à reunião desta sexta alegando motivos de saúde.
Encontros secretos
O clima foi tenso no Senado desde o início da manhã desta sexta. Renan reuniu-se cedo com senadores aliados no gabinete da líder do PT, Ideli Salvatti (SC). Logo depois, o presidente do Senado recebeu integrantes do Conselho de Ética em seu gabinete para um encontro reservado, inclusive Cafeteira, que reafirmou que não mudaria seu relatório. A visita de Cafeteira, relator do processo, aliás, provocou revolta em alguns integrantes do Conselho de Ética. A todos, Renan mostrou documentos para rebater a reportagem do Jornal Nacional.
Renan ainda procurou os senadores da oposição, contrários ao arquivamento do processo. Os líderes do Democratas, José Agripino (RN), e do PSDB, Arthur Virgilio (AM), não disfarçaram o contrangimento de um encontro reservado com Renan a poucos minutos da reunião do Conselho de Ética. A conversa a portas fechadas ocorreu no gabinete do tucano Marcone Perillo (PSDB-GO). "Não sou líder estudantil. Como iria dizer para o Renan não entrar?", disse Arthur Virgilio.
A oposição, porém, não se convenceu e manteve a posição de aprovar um relatório que pede a continuidade das investigações. "Não muda nada", afirmou Agripino. O presidente do Senado negou que tenha feito pressão aos colegas. "Não quero formar cabeças, mas mostrar a verdade. Hoje, tive condições de esclarecer tudo", afirmou.
Em seu relatório paralelo, o senador Demóstenes Torres (DEM-SP) pede a manutenção do processo para poder chegar a um "juizo adequado" do caso. "Somente a devida apuração dos fatos, com a oitiva das pessoas envolvidas e o periciamento das provas apresentadas pela defesa do presidente Renan Calheiros, possibilitará chegar a um juízo de valor adequado, elemento essencial à definição de rumo do procedimento", defendeu o senador. Além dele, os senadores Jefferson Perez (PDT-AM) e Marcone Perillo apresentaram relatório semelhante.
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