Após um fim de semana de articulações, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), enfrenta mais um dia de investigações do seu caso no Conselho de Ética do Senado. Sem a presença do relator, que pediu afastamento por motivo de saúde, estão marcados para esta segunda-feira no colegiado os depoimentos do lobista Cláudio Gontijo, empreiteiro da Mendes Júnior que teria pago despesas pessoais do presidente do Senado, e do advogado Pedro Calmon, que representa a jornalista Mônica Veloso, com quem Renan tem uma filha. Gontijo fala aos senadores às 14h30m e, e em seguida, o Conselho ouve o advogado Pedro Calmon.
O senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), 83 anos, passou mal na madrugada de sábado para domingo, quando desmaiou no banheiro de sua casa e, socorrido por uma ambulância do Senado, foi internado no Hospital Santa Luzia. O diagnóstico é de leucocitose (aumento de glóbulos brancos no sangue, que pode ser causado por uma infecção ou inflamação) - a mesma doença que teve no início do ano. Cafeteira teve alta e está de licença médica por dez dias.
O presidente do Conselho de Ética, senador Sibá Machado (PT-AC), já foi informado sobre a decisão de Cafeteira e deverá agora indicar um novo relator para o processo de Renan ou um relator ad hoc apenas para ler o relatório de Cafeteira.Acordo prevê perícia mas não contabilidade de empresas
Segundo reportagem publicada pelo jornal "O Globo" nesta segunda-feira, o acordo feito por Renan é de arquivar o caso nesta terça-feira, desde que a perícia da Polícia Federal (PF) ateste a veracidade dos documentos apresentados por sua defesa, mesmo sem conferir a contabilidade das empresas que teriam comprado gado do senador.
A estratégia foi combinada com senadores da base e até mesmo com integrantes da oposição. Renan também ganhou o apoio do Palácio do Planalto.
O resultado da perícia que está sendo feita por técnicos do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, em Alagoas, é o argumento que os defensores do senador vão usar para justificar o arquivamento. Renan passou o domingo na residência oficial do Senado, com o advogado Eduardo Ferrão. Também recebeu o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, e um jornalista amigo. Procurado pelo jornal "O Globo", não retornou os telefonemas.
Por solicitação do Conselho de Ética, a Polícia Federal analisa a autenticidade dos documentos que Renan apresentou para comprovar a venda de R$ 1,9 milhão em gado nos últimos quatro anos. Essa verificação está sendo acompanhada por técnicos da Secretaria de Controle Interno do Senado, que viajaram ontem para Maceió. A perícia será feita em notas fiscais, recibos, comprovantes de depósitos e guias de trânsito animal entregues por Renan ao Conselho de Ética.
A tese da defesa do presidente do Senado é que esses documentos comprovariam que a venda de gado deu rendimentos suficientes para Renan pagar pensão para a jornalista Mônica Veloso. O PSOL entrou com representação no Conselho de Ética pedindo a abertura de um processo de cassação contra Renan.Defesa apresenta mesmo cheque para transações diferentes
Segundo a reportagem, os documentos apresentados por Renan ao Conselho de Ética contêm incongruências. Em dois casos, os recibos de venda de gado anexados apresentam o mesmo cheque para justificar duas compras distintas. Em outros casos, há erros de digitação, além de CNPJ com números trocados, ou pertencente a outra empresa.
Um dos supostos compradores de gado do senador está com o CPF pendente de regularização na Receita Federal e, de acordo com o site do órgão, ele não entregou declaração de Imposto de Renda ano passado, embora tenha gastado R$ 55.607 na compra de bois de Renan, segundo os documentos apresentados pelo senador.
Na sexta-feira, a denúncia impediu Renan de arquivar o processo contra ele no Conselho de Ética. O julgamento foi adiado para esta terça-feira. Pressionado, propôs perícia nos documentos. Mas, em menos de 24 horas, mudou sua versão sobre a origem das notas . Antes, responsabilizara o veterinário Gualter Peixoto pela venda do gado. Na sexta-feira, disse que Zoraide Beltrão, dona de um frigorífico, é a responsável pelas notas suspeitas. Ouvida pelo "Jornal Nacional", ela disse que já fez negócios com Renan, mas jamais emitiu recibos.