Renan Calheiros: denunciado ao STF por peculato, novo presidente do Senado prometeu uma gestão transparente| Foto: Antônio Cruz/ABr

Souza defende Renan e Alvaro prevê "usina de escândalos"

Os senadores paranaenses Sérgio Souza (PMDB) e Alvaro Dias (PSDB) estiveram entre os 19 que discursaram durante a eleição para a presidência do Senado.

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José Sarney chora ao deixar o cargo

Folhapress

Ao despedir-se ontem da presidência do Senado, José Sarney (PMDB-AP) chorou lembrando seu histórico como parlamentar e sua gestão no comando da instituição. Em discurso na sessão que define o novo comando da Casa, Sarney disse que "pautou suas gestões voltado ao futuro e à modernidade", com ênfase em "aprofundar a democracia".

"Dediquei toda a minha vida à política ao serviço do meu país. Minha reflexão final é que essa paixão do bem comum e da política é maior do que a paixão da vida", disse. Sarney presidiu o Senado por quatro vezes e ocupa mandatos no Congresso há mais de 50 anos.

Durante suas gestões no comando da Casa, Sarney protagonizou o escândalo dos atos secretos – em que medidas tomadas pelo parlamentar não foram publicadas oficialmente. O peemedebista enfrentou dez processos no Conselho de Ética, que acabaram arquivados.

Ao citar a imprensa, disse que "até o tempo corrige a prática de sua liberdade e de seus excessos". O peemedebista ainda afirmou que entrega o Senado ao seu sucessor "totalmente informatizado", com a reforma administrativa da Casa "80% implantada". A reforma, na verdade, foi discutida depois dos atos secretos, mas até hoje não saiu do papel.

Renan (de costas) conversa com o senador Pedro Taques (PDT-MT): candidato do grupo dos independentes recebeu 18 votos
Sarney: presidência da ABL já está sendo articulada

Renan Calheiros (PMDB-AL) precisou de cinco anos e dois meses para completar uma reviravolta política que o levou da cassação iminente ao retorno à presidência do Senado. Não bastaram as campanhas contrárias encabeçadas por movimentos sociais, a denúncia por três crimes que tramita no Supremo Tribunal Federal, ou o apelo de última hora do correligionário Pedro Simon (PMDB-RS). Renan está de volta ao topo; e com o apoio maciço dos colegas.

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Após renunciar à presidência do Senado em dezembro de 2007 para evitar a perda do mandato, ele recebeu ontem 56 votos para retornar ao cargo, contra apenas 18 de Pedro Taques (PDT-MT). O pedetista teve quatro votos a menos que o número previsto pela oposição (houve ainda dois votos em branco, dois nulos e três ausências). Ao final das contas, Renan furou o cerco montado para sustentar o adversário, que reunia, além dos pedetistas, PSDB, PSB, DEM, PSol e alguns dissidentes do PMDB e PT. Enquanto isso, manteve sua candidatura impermeável.

Renan chegou ao Senado às 9h30, acompanhado do aliado José Sarney (PMDB-AP). Pouco depois, integrantes de organizações não governamentais, como o Instituto de Fiscalização e Controle e Rio de Paz, tentaram (sem sucesso) entregar aos senadores uma petição com mais de 290 mil assinaturas, coletadas via internet, contrária à candidatura de Renan. Para completar o cenário, espalhava-se a notícia de que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, havia acabado de confirmar a denúncia contra Renan por peculato (uso de cargo público para desvio de recursos), falsidade ideológica e uso de documento falso.

Apenas um sexto dos apoiadores de Renan usou a tribuna para defender o voto no peemedebista. Entre eles, somente um petista, o novo líder do partido, Wellington Dias (PI). Do outro lado, dez falaram contra o vencedor ou a favor de Taques.

O discurso mais emblemático foi o de Simon. "Não te metes, nessa, Renan!", disse o gaúcho. "Quem vai sair daqui como um grande vencedor é o senador Renan. Se ele retirar a candidatura", complementou.

Do lado de Renan, pesou o discurso do conterrâneo Fernando Collor (PTB-AL), que chamou Roberto Gurgel de "chantagista" e "prevaricador". "Como é que esse senhor tem autoridade moral para apresentar uma denúncia contra um senador que já foi julgado pelo Senado?", disse o ex-presidente da República.

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Os dois candidatos discursaram ao final da sessão. "É como um perdedor que ocupo hoje esta tribuna", começou Taques. Depois, descreveu episódios históricos em que a derrota foi mais importante que a vitória. "Existem vitórias que elevam o espírito humano e outras que o rebaixam."

Renan foi menos filosófico e mais propositivo. Apresentou quatro eixos nos quais pretende pautar sua gestão. "O Congresso será uma barreira contra todas as iniciativas que, sob qualquer pretexto, pretendam arranhar nosso modelo democrático de liberdade de expressão", disse.

O discurso, que também focou na racionalização administrativa e na transparência, selou a vitória de Renan. Contraditoriamente, o resultado saiu de mais uma eleição com voto secreto. Assim como as duas votações que impediram a cassação do peemedebista, em 2007.

Ueslei Marcelino/Reuters

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Grupo cobre Esplanada de luto

Manifestantes cobriram parte do gramado da Esplanada dos Ministérios com um tecido preto, como símbolo de luto pela eleição de Renan Calheiros para a presidência do Senado. Antes, os integrantes do grupo tentaram entregar aos parlamentares uma petição, organizada pela internet, contra a candidatura de Renan. No entanto, eles foram impedidos de entrar no Senado porque, até o fim da sessão, o acesso estava restrito a funcionários ou pessoas credenciadas.