O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), indicou que irá adiar a sessão do Congresso, marcada para a noite desta terça-feira (22), em que estão em pauta vetos da presidente Dilma Rousseff a propostas que geram amplo impacto fiscal nas contas públicas. Se derrubados, os vetos inviabilizaram o ajuste que o governo tenta fazer para recuperar o crescimento da economia.
Dilma liga para Cunha para saber de clima antes de votação de vetos
A presidente Dilma Rousseff telefonou na tarde desta terça-feira (22) para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para saber como está o clima na Câmara para a sessão de vetos desta noite.
O peemedebista almoçava com líderes partidários no momento da ligação e conversava justamente sobre o assunto. Uma resposta definitiva, contudo, só será possível no fim do dia, após as diversas reuniões que ocorrem ao longo da tarde.
Apesar de haver, nos bastidores, acordo para adiar a votação dos 32 vetos que podem gerar impacto de R$ 127,8 bilhões para os próximos quatro anos, o governo está preocupado com a possibilidade de não conseguir evitar uma derrota caso a sessão realmente ocorra.
Com a base governista desgastada, o Palácio do Planalto dava como certa a derrota na semana passada. Hoje, o cenário ainda é incerto. As bancadas dos partidos aliados se reúnem até o fim do dia para avaliar como está o clima.
Mais cedo, Cunha disse ser “arriscado” abrir a sessão. “Vai ser ruim. Acho melhor, do ponto de vista pragmático, não correr esse risco e adiar, por uma questão simples. Se o governo perder, a relação do mercado vai ser horrorosa e a situação já tem uma instabilidade. Você não deverá correr muitos riscos”, afirmou o presidente da Câmara.
O presidente do Senado, que também preside o Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), sinalizou mais cedo que pode adiar a sessão. É o próprio Renan quem deve liderar o movimento para adiar a reunião desta noite. Se uma das duas Casas estiver com votação em andamento na hora marcada para a sessão do Congresso, ela se torna inviável.
Como a oposição não aceitará fazer acordo para adiar a sessão, essa será a alternativa que o Senado vai colocar em prática para protelar a votação dos vetos presidenciais.
Caso os vetos de impacto bilionário sejam derrubados, o ajuste fiscal que o governo tenta fazer pode ser inviabilizado. O projeto que mais preocupa o governo é o que barra o reajuste de cerca de 59,5% dos servidores do Judiciário nos próximos quatro anos. O impacto, conforme cálculos do governo, é da ordem de R$ 25,7 bilhões.
“O Congresso tem ajudado bastante o Brasil. Definitivamente, é chegado o momento de fazermos um apelo à responsabilidade fiscal. [...] E a maior sinalização que o Congresso pode dar hoje ao país é de que não quer que o Brasil aumente o seu risco. Realizar a sessão do Congresso é potencializar o risco do Brasil”, disse Renan.
Como é também o presidente do Congresso, Renan espera uma chancela dos líderes partidários para anunciar o adiamento. O peemedebista não quer ser taxado como o responsável pelo adiamento. Nesta segunda, (21), Dilma pediu pessoalmente a ele e a Cunha que impeçam a realização da sessão.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também defendeu o adiamento da reunião. “Vai ser ruim. Acho melhor, do ponto de vista pragmático, não correr esse risco e adiar. Se o governo perder, a reação do mercado vai ser horrorosa e já há uma instabilidade. Não se deve correr muitos riscos”, afirmou Cunha.
Apesar de não acreditar que a votação seja o melhor caminho, Cunha se comprometeu a abrir a sessão da Câmara desta terça no horário para conseguir encerrar as votações do dia até 20h, para ser possível iniciar a sessão conjunta com os senadores.
O governo calcula que se a sessão for aberta e houver o quórum mínimo para votação a chance de alguns vetos serem derrubados é grande. Nem no Senado, onde tem maior controle de sua base aliada, o governo tem maioria pela manutenção dos vetos.
Na Câmara, é dado como certo uma derrota do Planalto. “O pior que pode haver para o Brasil é realizarmos essa sessão do Congresso, potencializando o risco de desarrumação fiscal”, afirmou Renan.
ADIAMENTO
Nos bastidores, desde que a sessão foi marcada, foi colocada em prática uma operação casada para derrubar a sessão. Embora Cunha negue participar de qualquer acordo a esse respeito, no Senado, diz-se que o presidente Renan levaria a sessão com votação até mais tarde, para inviabilizar a abertura do Congresso.
No total, estão na pauta do Congresso 32 vetos que, somados, provocam um impacto de R$ 127,8 bilhões nos próximos quatro anos.
O veto mais preocupante é o que derruba o reajuste de cerca de 59,5%, nos próximos quatro anos, dos salários dos servidores do Judiciário. O impacto do reajuste calculado pelo governo é de R$ 25,7 bilhões até 2018, praticamente o mesmo valor de corte proposto agora por Dilma para equilibrar as contas públicas.
A Folha de S.Paulo mostrou no domingo (20) que, sob o comando de Cunha e Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, o Congresso aprovou projetos que, se entrarem em vigor, representam gasto extra anual de R$ 22 bilhões aos cofres públicos.
Derrubada de vetos ameaça matar ajuste do governo Dilma pela raiz
Leia a matéria completaDesde o início do ano, o governo tem conseguido inviabilizar a realização das sessões conjuntas. A estratégia, porém, quase foi posta em risco no mês passado quando a Câmara quase conseguiu reunir o número mínimo de parlamentares para abrir a sessão. Para não correr o mesmo risco, o governo pressiona pelo adiamento da sessão desta terça.
“Por conta desse risco enorme da potencialização da crise, da desarrumação fiscal, não reunimos o Congresso há seis meses. E, se for necessário, passaremos mais tempo cedendo a um apelo à responsabilidade. O ideal é que seja uma decisão do Brasil, materializada pelo Congresso e que não seja sinônimo de desarrumação da economia”, disse Renan.
JUDICIÁRIO
O Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público da União no Distrito Federal recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar forçar o Congresso a analisar o veto da presidente ao projeto de lei que fixou reajuste de até 78% para servidores do Judiciário.
Relator do caso, o ministro Luiz Edson Fachin pediu que a Advocacia Geral da União se manifeste em até 72 horas sobre a ação do Sindicado. Após esse prazo, o ministro decide se se concede ou não uma decisão provisória (liminar) que obrigaria deputados e senadores a analisarem a proposta.
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