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Depois de participar de almoço oferecido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao secretário-geral do Partido Comunista do Vietnã, Nong Duc Manh, no Itamaraty, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que não tem como provar as transferências feitas à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha de três anos, até a comprovação da paternidade, ocorrida em dezembro de 2005, porque até então não era uma relação oficial.

- Não tinha como ter provas das transferências porque não era uma relação oficial. A partir do momento que assumi, tenho os comprovantes - afirmou.

No almoço, Renan sentou-se à mesa em que estava Lula e, embora tenha sido bem tratado, os dois não chegaram a conversar.

Mais cedo, Renan afirmou que não vai se licenciar do cargo e que já apresentou todos os documentos para provar que são próprios os recursos usados para pagar pensão alimentícia a sua filha de três anos. Logo que chegou ao Congresso, Renan foi cercado por jornalistas que o questionaram se pretende afastar-se da presidência do Senado para se defender.

- Não. Não há nenhuma acusação contra mim. Falei ao Senado, falei ao país. Entreguei absolutamente tudo, não está faltando nada - justificou.

Renan não comentou a reportagem da "Folha de S.Paulo" desta terça-feira, segundo a qual a PF identificou a voz do presidente do Senado numa interceptação telefônica. Na conversa, Renan fala com Flávio Pin, superintendente da Caixa Econômica Federal preso na Operação Navalha, acusado de integrar a quadrilha que fraudava licitações. Na gravação da PF, Renan diz ter conversado com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) sobre a liberação de recursos da União para a cidade de Maceió.

O discurso feito no plenário da Casa, porém, não conseguiu fazer a defesa cabal que os demais senadores esperavam. Nesta terça-feira, o senador Jeferson Peres (PDT-AM) defendeu o licenciamento de Renan, para que o Senado não passe por "constrangimentos". Para o senador amazonense, as explicações de Renan deixaram lacunas que devem ser preenchidas. Péres prometeu recomendar a licença nesta quarta-feira, durante a primeira sessão do Conselho de Ética, o que, para ele, daria maior liberdade para as investigações.

- Acho que Renan deveria tirar uma licença provisória para evitar constrangimento para a Casa, pois ele já está sob investigação pela Corregedoria. Isso deveria ser praxe no Senado - disse o pedetista.

Também insatisfeito, o PSOL entrou com um pedido de abertura de processo de quebra de decoro parlamentar, no Conselho de Ética do Senado, contra Renan. A presidente do partido, Heloísa Helena, conterrânea do presidente do Senado, anunciou a decisão:

- Quando um partido faz uma representação para identificação de quebra de decoro, ele investiga o abuso das prerrogativas asseguradas ao parlamentar, os crimes contra administração pública, intermediação de interesses privados, exploração de prestígio, tráfico de influência e recebimento abusivo de vantagens indevidas. Isso que trata a representação - afirmou.

Heloisa Helena também pediu a abertura de uma CPI para apurar denúncias da PF relativas à Operação Navalha, que aponta o envolvimento de autoridades com a construtora Gautama.

- Só uma CPI tem poder de investigação - defendeu.

O líder do PSOL na Câmara, Chico Alencar (RJ), concorda com Jeferson Péres e acha que Renan deveria pedir licença do cargo.

O PSOL divulgou aina um pacote de medidas para tentar conter a crise política instalada desde a operação da PF. Entre elas, estão a constituição imediata da CPI mista, uma reforma político-eleitoral, a criação do Orçamento impositivo, a aprovação do projeto que dá fim ao nepotismo, a votação do projeto que criminaliza o enriquecimento ilícito a partir de evolução patrimonial inexplicada e a revisão da Lei de Licitações e do foro privilegiado.Em pronunciamento, senador expôs vida pessoal

O presidente do Senado, Renan Calheiros, se defende das acusações de corrupção no plenário - Reuters

Durante o pronunciamento de cerca de 25 minutos feito na tarde de segunda-feira, Renan Calheiros demonstrou que saíram de sua conta corrente os R$ 3 mil mensais para o pagamento da pensão, de dezembro de 2005, quando reconheceu a paternidade da filha, em diante. ( Veja aqui trechos do discurso no Senado )

Mas permanece sem comprovação a origem dos recursos repassados a Mônica antes desse período. Segundo reportagem da revista "Veja", o dinheiro para a apresentadora era entregue pelo lobista da Construtora Mendes Júnior, Cláudio Gontijo , na sede da empresa em Brasília, com valores em espécie e em um envelope onde estava registrado as letras MV.

Ele também não explicou como pagou, em meados de 2006, R$ 100 mil para um suposto fundo para a educação futura da criança que, segundo a defesa da apresentadora, nunca existiu.

- Não existe um fundo para educação, pra cultura da menina. O pagamento foi feito para complementar os valores de pensão alimentícia - afirmou na segunda-feira ao "Jornal Nacional" o advogado de Mônica Veloso, Pedro Calmon Filho.

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