Renan Calheiros e Lula: apoio mútuo nos momentos de crise ajudou a construir uma aliança sólida ao longo do governo petista.| Foto: Evaristo Sá/AFP

Tida como trunfo na luta contra o impeachment da presidente Dilma Roussef no Senado, a parceria entre o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o governo do PT teve início durante o escândalo do mensalão, quando a atuação do peemedebista foi considerada fundamental para evitar maiores respingos sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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Ainda que tenha participado dos governos de Collor e FHC, o posicionamento ideológico de Renan se aproximava, em muitos pontos, ao do PT, facilitando a convivência ao longo dos anos. Fundamental, contudo, foi o respaldo que um deu ao outro nos momentos de maior crise.

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Renan era presidente do Senado quando estourou o escândalo do mensalão, em junho de 2005. Meses antes, Lula já vinha administrando outra crise, que resultou na criação da CPI dos Correios – o intuito era investigar pagamento de propina na estatal, mas acabou se voltando para a compra de votos na Câmara revelada pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) no começo de junho.

Dias antes de Jefferson colocar a boca no trombone para denunciar o mensalão, Renan havia se reunido com Lula, e divulgou um plano para “o crescimento do país, superando os entraves, combatendo a corrupção e reduzindo a informalidade”.

Na “agenda do crescimento” de Renan havia vários pontos que de fato entraram em vigor nas gestões petistas. Ele sugeriu continuidade na reforma do Judiciário, mudança na correção das dívidas de estados e municípios, criação de uma Lei Geral de Microempresas, desoneração da cesta básica e formalização dos empregados domésticos, com abatimento no Imposto de Renda para os empregadores.

Renan Calheiros e Dilma Rousseff nunca foram tão próximos. 

Naquele encontro com Lula, Renan também sugeriu que não fosse feita uma reforma ministerial. A entrevista-bomba de Roberto Jefferson, porém, forçou várias mudanças, entre elas a troca de José Dirceu na Casa Civil por Dilma Rousseff. Escândalos do governo Lula se proliferaram, e, além da CPI dos Correios, foram criadas a CPI dos Bingos (também chamada de Fim do Mundo, por tratar de várias denúncias sem relação) e a CPI do Mensalão.

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Renan, que também era presidente do Congresso, tinha a atribuição de conduzir as CPIs Mistas, compostas por deputados e senadores. E, sempre que possível, se agarrava a um detalhe regimental para atrasar ou dificultar as investigações. As CPIs dos Correios e a dos Bingos se estenderam até 2006, mas não produziram efeitos na campanha de reeleição de Lula, que foi vitorioso.

Renan balançou, mas não caiu no escândalo Mônica Veloso

Referendado pelas urnas, motivado pelas descobertas da camada de pré-sal pela Petrobras e com boas perspectivas de crescimento econômico, Lula deu a volta por cima em 2007, após a crise do mensalão. E, ao longo daquele ano, foi a vez dele retribuir os favores a Renan Calheiros.

O senador foi alvo de uma série de denúncias, entre as quais a de receber dinheiro de um lobista para bancar despesas da amante Mônica Veloso, com quem teve uma filha.

Caso com jornalista Mônica Veloso custou a presidência do Senado. 

Renan foi alvo de cinco pedidos de cassação no Conselho de Ética. Dois deles prosperaram e foram ao plenário, para a decisão final. Nos bastidores, o presidente do Senado estaria assustando o governo, com a possibilidade de a oposição assumir o comando da Casa. Segundo a revista Época, ele teria dito a Lula: “Estão atirando em mim, mas o alvo é você, não tenho dúvidas”.

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Em votação secreta, a maioria absolveu o peemedebista, que cooptou votos importantes de todas as legendas, e não só da base aliada. Para evitar maiores danos à imagem, Renan renunciou à presidência.

Senador tem interesses próprios ao atrasar processo de impedimento

O senador alagoano permaneceu atuante, mas nos bastidores. Voltou à presidência do Senado no começo de 2013 e foi reeleito em 2015. Nunca foi muito próximo de Dilma Rousseff, com quem teve alguns embates – rejeitou análise de medidas provisórias e atrasou discussões fundamentais para o Planalto. Mas ainda é tido como peça-chave por petistas, que veem nele um importante escudo contra os ataques do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Nesse caso, Renan pode ajudar, mas menos por apreço a Dilma e mais pela disputa de poder dentro do PMDB.

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Ao esticar ao máximo o calendário do impeachment, Renan mostra à dobradinha Michel Temer-Eduardo Cunha o poder que dispõe, marcando território para o caso de um futuro governo do PMDB. E ainda mantém abertas as portas para o PT, enquanto durar o governo.

O espaço de Renan no futuro só será abalado se houver avanços nos inquéritos do Supremo Tribunal Federal (STF) em que é alvo. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já pediu ao STF a abertura de sete inquéritos para investigar Renan no âmbito da Operação Lava Jato. O senador também responde a um inquérito relacionado à propina que recebeu para pagar as despesas de Mônica Veloso.

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