Depois de quase três horas de reunião entre o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, e a embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Susan Rice, os discursos finais foram de cooperação e trabalho conjunto, mas as divergências também ficaram claras. Venezuela e Conselho de Segurança das Nações Unidas são dois pontos em que Rice e Patriota não disfarçaram as divergências. Enquanto a embaixadora americana defendia uma recontagem dos votos que deram a vitória ao chavista Nicolás Maduro, o chanceler brasileiro insistia que a questão é interna e a decisão cabe apenas aos venezuelanos.
"Esperamos que todos os esforços sejam feitos para evitar qualquer violência e instabilidade. Nós sabemos que as eleições foram muito apertadas. E o presidente, de fato, inicialmente indicou um desejo e um interesse por auditoria para que tenhamos certeza que o resultado final seja um que todos os venezuelanos possam aceitar", afirmou Rice. "Nós ainda acreditamos que esse é um caminho prudente e iria reforçar a confiança além das fronteiras e contribuir para segurança e estabilidade".
Ao seu lado, o chanceler brasileiro repetiu o que já havia dito no início da semana: o Brasil reconhece a eleição de Maduro e considera que a decisão de uma recontagem é exclusiva das autoridades venezuelanas, mesmo garantindo que o Brasil não teria porque se opor a isso. "Nós respeitamos a soberania venezuelana. São questões internas", frisou. "A missão de acompanhamento eleitoral da Unasul se manifestou dizendo que os resultados devem ser respeitados. Na medida que haja uma decisão interna de recontagem não teremos nada contra, acho que pode ser algo que contribua para consolidar os resultados, mas já nos pronunciamos, felicitamos o presidente Maduro".
A visita de Rice, que desde o final de semana está no Brasil, também termina sem que o governo brasileiro consiga avançar em uma das suas negociações mais caras, a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, defendida pelo País, que almeja um assento permanente. A embaixadora americana sempre foi uma das maiores críticas à postura brasileira nas questões de segurança, e chegou a usar o acordo costurado entre Brasil e Turquia com Irã, sobre o enriquecimento de urânio, como um exemplo de por que o País não poderia fazer parte do Conselho.
Questionada se havia mudado de opinião, Rice trouxe a tradicional resposta americana: "Nós apreciamos muito que o Brasil aspire ser um membro permanente e reconhecemos com gratidão a crescente responsabilidade global que o País tem assumido no espectro dos temas que discutimos hoje, incluindo paz e segurança, direitos humanos, apoio à democracia. Queremos muito continuar nossas discussões com o Brasil e outros parceiros chave nas negociações que estão acontecendo dentro da Assembleia Geral na expansão do Conselho".
Da mesma forma que o presidente americano Barack Obama, em sua visita ao Brasil em março de 2011, Rice "reconhece" as aspirações brasileiras e o papel global que o País tem desempenhado, mas evita uma declaração favorável, ao contrário do que fez no mesmo ano com a Índia. Na visita ao país, Obama declarou que "não via um Conselho de Segurança ampliado sem a presença da Índia". Rice ainda deixou claro que os Estados Unidos, apesar de reconhecerem a necessidade de uma reforma "modesta", não aceita dar poder de veto a novos membros permanentes.
Patriota, em seguida, cobrou urgência na decisão pela reforma. "Não é uma questão puramente acadêmica, é uma questão da governabilidade internacional. Existem riscos inerentes a essa demora. Não podemos nos permitir um Conselho que perca legitimidade, cujas decisões não sejam levadas a sério", afirmou. "Consideramos que temos uma contribuição a dar. A maioria hoje nas Nações Unidas é favorável à ampliação nas duas categorias de membros. Uma decisão nesse sentido já seria muito oportuna e serviria para criar o contexto favorável para que depois se definisse exatamente quem são os membros".
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