Segunda fase da Operação Lava Jato deflagrada após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de fatiar as investigações que não têm relação com a Petrobras, a Operação Corrosão interrompeu um intervalo de 56 dias sem nenhuma ofensiva da Polícia Federal em relação ao caso. A demora gerou a sensação de que as investigações sofreram um impacto causado pela decisão do Supremo.
INFOGRÁFICO: A linha do tempo da Operação Lava Jato
Em setembro, os ministros decidiram que casos que não tenham relação direta com a Petrobras não devem ser conduzidos pelo juiz federal Sergio Moro, em Curitiba. As irregularidades da Eletronuclear, por exemplo, foram remetidas ao Rio de Janeiro, enquanto as investigações referentes aos contratos da Consist com o Ministério do Planejamento ficaram em São Paulo – a Procuradoria-Geral da República (PGR) enviou recurso ao STF para tentar reverter o fatiamento.
Para o delegado da PF Marcio Anselmo, o fatiamento das ações não deve interferir em novas fases da Lava Jato nem nas investigações já conduzidas pela PF do Paraná. Ele também não acredita que houve um intervalo maior entre as operações depois da decisão do Supremo. “Mas, sim, algumas fases ocorreram muito próximas”, diz.
Poucos dias depois da decisão do STF a PF deflagrou a Operação Nessum Dorma, a 19.ª fase. O recado dos investigadores foi claro. “O nome fica como dica para quem achava que a Operação Lava Jato começou a diminuir suas ações e um alerta para quem está envolvido em crime de corrupção no país”, disse o delegado da PF Igor Romário de Paula na ocasião. Na mesma coletiva de imprensa, o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Carlos Lima garantiu que a Lava Jato não estava “perdendo o fôlego”.
Ritmo mais lento
Quase dois meses depois, a PF chegou a admitir que o ritmo diminuiu por causa da decisão do STF. “Se não fosse isso [desmembramento] estaríamos pelo menos na 23.ª fase”, disse Igor Romário de Paula em entrevista coletiva concedida na deflagração da 20.ª fase, na segunda-feira (16).
Cooperação
O clima é de cooperação entre os procuradores de Curitiba e do Rio. Em São Paulo, o MPF criou uma força-tarefa independente, sem os procuradores de Curitiba, para investigar a pasta do Planejamento.
Outras paradas
Apesar de chamar a atenção, o intervalo entre a 19ª a 20ª fases não é o maior registrado ao longo da Lava Jato. Depois da deflagração da 6ª fase, quando foram realizadas buscas em endereços ligados ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, em agosto do ano passado, a PF demorou 83 dias para deflagrar a Operação Juízo Final, que prendeu executivos das maiores empreiteiras do país, em novembro de 2014. O intervalo entre a deflagração da 7ª fase e a prisão do ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró também foi grande: 59 dias. Cerveró foi preso no Rio de Janeiro, no início do ano.
Conforme ele, a 18.ª fase da Operação – a Pixuleco II – trouxe um volume grande de informações “muito interessantes” para conduzir novas investigações envolvendo o Ministério do Planejamento, mas, com a decisão do STF, a PF foi obrigada a pisar no freio. “A impressão que a gente tinha é de que aquele caso poderia avançar muito rápido e ter gerado novas fases”, aponta.
Com o inquérito remetido para São Paulo, como afirma o delegado, a investigação está quase parada (leia mais nesta página). “Está se perdendo tempo, justamente nessa fase que estava mais quente”, diz. Ele aponta, por exemplo, que uma das primeiras medidas tomadas com a declinação do processo foi a soltura do ex-vereador Alexandre Romano. A senadora paranaense Gleisi Hoffmann (PT) é apontada como suspeita nesse inquérito.
Apesar dos percalços, Igor afirma que, mesmo as denúncias não relacionadas à Petrobras que chegam à PF e que, com isso, poderão ser remetidas a outros juízos, continuarão a ser apuradas.
“Parada técnica”
O procurador Carlos Lima classificou o tempo maior entre as operações como “parada técnica”. “A operação continua vigorosa. Nós tivemos que fazer uma parada técnica para analisar as decisões do Supremo”, disse.
“Não vamos deixar de produzir provas quando elas se apresentarem para nós. Vamos revelar os fatos e, se depois o Supremo entender que eles não continuam conosco, tenho certeza que os outros estados continuarão as investigações”, fechou.
Força-tarefa de Curitiba busca união com São Paulo e Rio
- Katna Baran e Kelli Kadanus
Com o desmembramento das investigações referentes à Lava Jato, as forças-tarefas que atuam em Curitiba já se organizam para trabalhar em conjunto com investigadores de São Paulo, para onde foi remetido o caso envolvendo o Ministério do Planejamento, e do Rio de Janeiro, onde estão concentradas as investigações do esquema de corrupção na Eletronuclear.
Conforme o delegado Igor Romário de Paula, da força-tarefa da Polícia Federal (PF) em Curitiba, apesar das tratativas, os casos passaram a andar em ritmo mais lento em outros estados. “O ritmo é diferente lá e aqui. Aqui a força-tarefa já está montada, todo mundo já conhece o caso, sabe encaminhar mais rápido, a equipe está formada, é outra realidade”, aponta.
Segundo ele, a investigação pela PF de São Paulo, por exemplo, está praticamente parada, já que os inquéritos estão em posse do Ministério Público Federal (MPF) local. “Não sei se existe algum problema de relacionamento entre as instituições [PF e MPF] de lá. Fato é que a PF de São Paulo não vai fazer nada enquanto não for notificada”, explica. Essa situação, conforme o delegado, prejudica as investigações de um caso com material “rico”, como ele aponta.
Já no Rio de Janeiro, há uma agilidade no andamento dos inquéritos. Conforme o delegado do Paraná, já houve até pedido de remoção dos presos para o estado. Alguns policiais cariocas que faziam parte da investigação da Lava Jato no Paraná, inclusive, foram enviados para lá, e outros delegados vieram a Curitiba para analisar documentos desta fase da Operação.
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