A despesa do Senado com valores acima do teto constitucional nos salários de 472 funcionários já consumiu R$ 50 milhões nos últimos cinco anos, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), na folha de pagamento da Casa. A investigação dos técnicos do tribunal identificou que os principais beneficiados pela medida foram os servidores que ocupam cargos de chefia, agraciados com gratificações nos últimos anos.

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No relatório final, previsto para dezembro, os auditores devem se manifestar contrários à interpretação do Senado de não incluir algumas gratificações no cálculo do teto, que é o salário de R$ 25,7 mil de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

O tribunal pode pedir o ressarcimento aos cofres públicos dos valores pagos indevidamente. Hoje, o jornal "O Estado de S.Paulo" revelou que entre essas benesses que turbinam os salários está um bônus criado em 2003 por um ato administrativo mantido em sigilo e publicado na edição do jornal.

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A medida, camuflada no contracheque, permite que um servidor de nível médio - chamado de técnico legislativo - indicado para um cargo de chefia receba, além de R$ 2 mil da função comissionada referente ao posto, o salário básico de nível superior, o de analista legislativo.

Com isso, chefes de gabinetes de senadores ganham mais de R$ 20 mil por mês, enquanto o parlamentar tem um salário de R$ 16,5 mil. O TCU investiga essa manobra. Numa análise preliminar, os técnicos do tribunal consideram a medida ilegal.

Investigação - A folha de pagamento do Senado sempre foi um grande mistério recheado de suspeitas. Nesta quarta-feira (11), o primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), foi sucinto. "Estamos investigando o impacto causado por isso e vamos analisar as providências que serão tomadas, como resolver essa situação", disse. O senador criticou a postura da administração da Casa de jamais publicar o documento, assinado em setembro de 2003 pelo presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) e os integrantes da Mesa Diretora da época. Sarney preferiu não se manifestar sobre o assunto.

A reforma administrativa prometida pelo presidente do Senado - elaborada pela Fundação Getúlio Vargas - mantém a interpretação de não calcular as funções comissionadas para efeitos do teto constitucional.

Em 2005, a Mesa Diretora aprovou um parecer da Advocacia-Geral permitindo essa prática. O texto também excluía a gratificação criada por ato secreto dessa conta. No dia 19 de outubro, um inquérito foi aberto pelo Ministério Público Federal para investigar o assunto.

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Medida pública - Em nota divulgada nesta quarta, a Secretaria de Comunicação Social do Senado confirmou que o ato jamais foi publicado. Entretanto, a Casa alega que a medida era pública simplesmente porque seu teor foi aprovado pela Advocacia-Geral e, logo depois, o processo foi levado para a Secretaria de Recursos Humanos. "O processo seguiu ao setor de pagamento. Portanto, a decisão assumiu caráter público, em consonância com os trâmites legais", informa a nota.

O texto da secretaria informa ainda que o ato secreto foi "convalidado" por uma resolução da Mesa Diretora de 2005 que legalizou as medidas dos anos anteriores. O problema é que não havia como validar algo que nunca foi público. "A decisão em pauta, em nenhum momento se revestiu de caráter sigiloso. Em seus efeitos, foi auditada e aprovada em diversos exercícios fiscais pelo Tribunal de Contas da União", ressalta a nota do Senado.