O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), se defendeu em plenário nesta segunda-feira (17) da acusação de que uma empreiteira teria pago dois apartamentos em São Paulo para sua família. Ele negou o fato, fez críticas ao jornal "O Estado de S. Paulo" e a colegas e disse viver um processo "kafkiano", em referência ao personagem da obra "O processo", do escritor Franz Kafka, que é condenado sem saber qual a acusação contra ele.
Sobre os apartamentos, Sarney destacou as explicações dadas por seu filho, o deputado Sarney Filho (PV-MA). O deputado declarou em seu Imposto de Renda pagamentos relativos ao apartamento, comprado pelo dono da empreiteira. Segundo o presidente do Senado, não há escritura porque o pagamento não foi concluído.
O presidente do Senado disse ter comprado um apartamento no prédio citado pelo jornal em 1977. Posteriormente, seu filho adquiriu os dois apartamentos, que paga de forma parcelada. Sarney destacou que sempre se hospeda no local. Ele enfatizou que sua decisão de ficar em seu próprio apartamento gera a economia para a Casa por não usar a verba de representação a que teria direito.
"Eu estou economizando para o estado, morando lá em um apartamentozinho de 85 metros quadrados", disse Sarney.
O peemedebista citou a obra de Kafka para dizer o que pensa do processo contra ele. Disse lembrar do livro e do fato do personagem ser condenado sem acusação. "É um processo kafkiano este", disse Sarney sobre sua situação.
Sobre o jornal, autor da reportagem sobre os apartamentos, Sarney criticou a cobertura que vem fazendo do seu caso. "O Estado de São Paulo transformou-se num jornal, que na verdade, passou a ser em vez de um jornal lido, respeitado, passou a ser um tablóide londrino daqueles que busca escândalo para vender. Minha impressão é de que vejo um velho de fraque e de brincos".
Para Sarney, o veículo faz uma campanha "nazista" contra ele. "É uma prática nazista de acabar com as pessoas, denegrir sua honra, sua dignidade até levar para as câmaras de gás. Felizmente, no Brasil não temos câmara de gás".
"É com grande tristeza que vejo O Estado de São Paulo hoje, depois decadência financeira que o levou a terceirizar sua adminsitração, terceirizar agora sua redação, sua consciência e responsabilidade", disse Sarney.
O G1 entrou em contato com o diretor de conteúdo do jornal, Ricardo Gandour. Segundo sua secretária, o pedido de informações deveria ser feito por e-mail, uma vez que Gandour estava em viagem para Brasília nesta segunda-feira. O G1 aguarda resposta do jornal.
Reportagem
No domingo (16) o jornal "Estado de S. Paulo" publicou reportagem dizendo que a família de Sarney utiliza apartamentos comprados por uma empreitera. A Aracati Assessoria e Consultoria Ltda., cujo dono é o empresário Rogério Frota de Araújo, amigo dos filhos do presidente do Senado, teria negociado, segundo o jornal, a compra de dois apartamentos em São Paulo. Os imóveis seriam usados por familiares se Sarney.
Em um deles, de acordo com a reportagem, mora um neto do presidente do Senado, Gabriel José Cordeiro Sarney, filho do deputado Zequinha Sarney (PV-MA). O outro apartamento costuma abrigar assessores e convidados dos Sarney, mas também hospeda a família. Em junho passado, por exemplo, foi utilizado pelo próprio senador, em viagem a São Paulo para acompanhar a recuperação da filha, Roseana, operada para correção um aneurisma cerebral.
Briga Judicial
Em julho, o desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, acatou pedido dos advogados de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, para impedir a publicação, pelo "Estado de S. Paulo", de informações sigilosas referentes à Operação Boi Barrica, que investiga supostas irregularidades cometidas por Fernando.
O pedido dos advogados aconteceu depois que o jornal publicou conversas telefônicas entre Fernando Sarney, a filha dele, Ana Beatriz Sarney, e o presidente do Senado sobre a contratação do namorado de Beatriz para uma vaga no Senado.
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