Os deputados estaduais paranaenses receberam neste ano quase R$ 100 mil por dias não trabalhados. Isso sem contar o período, até março, em que eles nem precisavam justificar suas ausências do plenário. Em abril, finalmente, as "medidas moralizadoras" do presidente Valdir Rossoni (PSDB) exigiram que os ausentes fizessem o favor de dizer onde estavam na hora da sessão, caso quisessem receber pelo trabalho.
Desde então, quem falta sem justificativa perde R$ 650. Isso significa que, mesmo faltando a todas as sessões de um mês, um deputado segue com ganho de R$ 12 mil. Mas, como ninguém é de ferro, os parlamentares acharam que era preciso manter o seu sagrado direito de faltar ao trabalho sem desconto. Se não dava para faltar sempre, pelo menos uma vez no mês, que fosse!
O "acordo de líderes" saiu em maio. E a Assembleia passou a abonar, sem mais nem menos, a primeira falta de cada parlamentar no mês. De lá para cá, foram 143 faltas com direito a dinheiro na conta. Até aqui, isso significa R$ 93 mil. Com as sessões que faltam para fechar o ano, chegaremos quase certamente aos seis dígitos.
Quase todos os deputados usaram do expediente. Dos 54, três não precisam dizer nunca o motivo da falta, por serem os integrantes da Mesa Executiva. Dos 51 restantes, 46 pediram para ganhar por dias em que não apareceram. As cinco exceções merecem registro: Jonas Guimarães (PMDB); Professor Lemos (PT); Duílio Genari (PP); Gilberto Ribeiro (PSB); e Pastor Edson Praczyk (PRB).
Praczyk, aliás, se tornou uma raridade. Foi o único a comparecer a todas as sessões do ano, sem nem precisar apresentar justificativa. Não deixa de ser elogiável. Mas é incrível pensar que os outros 53 não tenham conseguido ir a um trabalho que só acontece nove meses por ano, três dias por semana...
Não restam dúvidas de que houve avanços na Assembleia desde o início do ano. A expulsão de funcionários que cobravam propina no estacionamento; o corte de aposentadorias ilegais; o próprio desconto no salário dos deputados faltosos. Tudo isso mostra que, depois do baque das denúncias dos Diários Secretos, o Legislativo estadual decidiu reagir.
Mas é impressionante como o resquício dos velhos vícios continua lá, no fundo da alma de cada deputado. Eles continuam achando que têm direito a 14.º salário. A 15.º salário. Acham que podem faltar ao trabalho sem justificativa e continuar recebendo mesmo assim.
Cada pequena mudança parece um parto. Para convencer que não é normal alguém ganhar dois salários por mês, ultrapassando inclusive o teto do funcionalismo, é preciso dizer, com todas as letras, que isso é um escândalo. A cada mês, descobre-se mais uma benesse, mais uma regalia que nunca havia sido divulgada.
Pior: os deputados continuam acreditando que estão sempre a serviço de um governo, mais do que a serviço da população. Para atender aos desejos palacianos, não se incomodam em votar as coisas de madrugada, em colocar a PM para evitar que o povo assista às sessões.
É como se eles tivessem entendido a mensagem pela metade. Estão ainda naquela fase em que se crê que é preciso mudar algo para que tudo continue como sempre foi. Não perceberam que é o fato de tudo continuar como era que a população não aceita mais. Veremos o que acontece no próximo ano...
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