O segundo e último dia de depoimentos de investigados na Operação Lava Jato na CPI da Petrobras em Curitiba não trouxe novas revelações aos deputados federais. O dia foi marcado por bate-boca, confusões e até por performances “artísticas”.
“Só não prenderam o Lula porque ninguém tem coragem”
- Kelli Kadanus, com agências
Destoando dos depoimentos desta terça-feira (12) à CPI da Petrobras, o ex-deputado federal Pedro Corrêa (PP-PE) – condenado no mensalão e preso pela Operação Lava Jato – afirmou que foi o ex-presidente Lula que colocou Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento da estatal, insinuando que o petista também teria de ser investigado pelos desvios. Corrêa ainda disse que “só não prenderam Lula porque ninguém tem coragem”, pois criaria uma comoção nacional devido à popularidade do ex-presidente.
É o segundo depoimento à CPI em que Lula foi citado nesta semana. Na segunda-feira (11), o doleiro Alberto Youssef disse acreditar que Lula e a presidente Dilma Rousseff sabiam do esquema.
Lula preferiu não se manifestar sobre as declarações de Corrêa. Mas , nas redes sociais, reagiu contra o depoimento do doleiro: “É inaceitável que uma grande democracia como o Brasil [seja] transformada em refém de um criminoso notório e reincidente, de um réu que negocia depoimentos – e garante para si um porcentual na recuperação do dinheiro que ajudou a roubar”.
Lula também reclamou do espaço dado por “parte da imprensa” a “pessoas” que “se prestam a difamar lideranças que a oposição não conseguiu derrotar nas urnas e teme enfrentar no futuro”.
Silêncio
Pedro Corrêa inicialmente iria permanecer calado no depoimento à CPI . Mas decidiu falar. Além de citar Lula, negou ter envolvimento nas ilegalidades investigadas pela Lava Jato e defendeu a realização de uma reforma política.
A maioria dos demais investigados optou pelo silêncio. Apenas a doleira Nelma Kodama respondeu a todos os questionamentos.
Além de Nelma, foram ouvidos o operador René Luiz Pereira, condenado a 14 anos de prisão e multa de R$ 632 mil pelos crimes de tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro e evasão de divisas; os ex-deputados André Vargas (sem partido), Luiz Argôlo (SDD) e Pedro Corrêa (PP); o doleiro Carlos Habib Chater e o publicitário Ricardo Hoffmann.
O primeiro depoimento – e o mais longo – foi o da doleira Nelma Kodama, condenada pelo juiz federal Sergio Moro a 18 anos de prisão por envolvimento no esquema. Questionada sobre seu relacionamento com o doleiro Alberto Youssef, a doleira revelou que foi amante dele entre 2000 e 2009. O momento da revelação foi marcado por descontração: Nelma começou a cantar um trecho da música “Amada Amante”, de Roberto Carlos. Outra situação engraçada ocorreu quando a doleira negou ter sido presa com 200 mil euros na calcinha. “Na verdade, foi nos bolsos de trás da calça”, disse, levantando e mostrando os bolsos, provocando risos.
Os demais depoimentos foram marcados por bate bocas e ironias por parte dos deputados integrantes da CPI. O ex-deputado federal André Vargas (sem partido) optou pelo silêncio em seu depoimento e o fato foi ironizado pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM). “Eu sinceramente esperava que o depoente utilizasse esse espaço na CPI para falar. Até porque o senhor André Vargas enquanto exerceu seu mandato era um falastrão. Hoje, ele é um caladão. Se cala porque, se falar, se enrola”, disse.
Música no Fantástico
Lorenzoni também ironizou o fato de o ex-deputado Pedro Corrêa (PP) dizer que está “bipreso”. Corrêa já estava preso por envolvimento no mensalão quando foi trazido para Curitiba, detido por envolvimento na Lava Jato. Lorenzoni disse que se o ex-deputado cometer novos crimes será “tripreso e poderá pedir música no Fantástico”.
O deputado do DEM protagonizou uma discussão com Corrêa poucos minutos depois. “Gostaria de dizer ao ex-deputado que nem todos os partidos são iguais. No meu partido, a gente bota pra rua quem rouba”, disse Lorenzoni. “Eu fui do partido do senhor”, provocou Corrêa. “Então a gente não sabia que o senhor roubava”, rebateu Lorenzoni.
Outra discussão foi protagonizada pelo deputado federal Delegado Waldir (PSDB) e o doleiro Carlos Habib Chater. A confusão começou quando o deputado perguntou ao réu qual atividade é mais rentável: tráfico de drogas ou lavagem de dinheiro. “Se o senhor tivesse feito o dever de casa saberia que eu não fui condenado por tráfico de drogas”, rebateu Chater.
Não satisfeito, Waldir continuou a fazer perguntas na mesma linha. “O senhor vende drogas para a Indonésia?”, perguntou o deputado. “Que parte o senhor não entendeu que eu não fui condenado por tráfico de drogas? O senhor quer que eu faça um desenho para o senhor?”, rebateu Chater. O clima ficou tenso na CPI depois dessa resposta. Chater chegou a ser denunciado por tráfico. Foi condenado apenas por lavagem de dinheiro pelo juiz federal Sergio Moro, na primeira sentença da Operação Lava Jato.
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