Atualizado em 06/06/2006, às 23h50
A Câmara dos Deputados foi alvo de vandalismo por uma hora e vinte minutos na tarde desta terça-feira por manifestantes ligados ao Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST), uma dissidência do MST. Para forçar a entrada no prédio, eles destruíram o que viam pela frente: quebraram vidros, jogaram paus, pedras e paralelepípedos e agrediram funcionários.
O grupo - estimado em até 700 manifestantes - queria a aprovação no Congresso de uma lei que permite a desapropriação de terras onde há trabalho escravo. Saiba mais sobre as reivindicações.
No início da noite, com a confusão controlada, ao menos 400 deles foram presos já fora do Congresso, segundo o comandante geral do policiamento metropolitano do Distrito Federal, coronel Antonio Serra. A prisão foi determinada pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Foram levados de ônibus para o ginásio Nilson Nelson, onde serão autuados pela Polícia Legislativa da Câmara.
Os que forem indiciados em crimes de menor potencial ofensivo devem ser liberados em seguida, mas alguns deles, que devem ser autuados em crimes inafiançáveis, serão transferidos para o presídio da Papuda. Entre os crimes cometidos estão invasão de prédio público, dano ao patrimônio público, desacato e lesão corporal grave.O líder do movimento, Bruno Maranhão, foi um dos primeiros a ser detidos.
- Não me arrependo do que fiz porque não somos vândalos - disse Bruno, que também é um dos líderes nacionais do PT, pouco antes de ser preso.
O grupo é o mesmo que invadiu o prédio do Ministério da Fazenda em abril do ano passado.
26 feridos
Pelo menos 26 pessoas ficaram feridas: a maioria deles seguranças terceirizados e integrantes da polícia legislativa. Dois dos feridos seriam manifestantes. O caso mais grave é o do coordenador de Apoio Logístico do Departamento de Polícia Legislativa (Depol), Normando Fernandes, que está na UTI de um hospital de Brasília. Ele teve afundamento craniano frontal esquerdo e edema cerebral. O estado de saúde de Fernandes é considerado estável.
Segundo o irmão do servidor, Nilton Fernandes, major do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, ele está fora de perigo.
- Graças a Deus ele está bem! - disse
No tumulto, o grupo chegou a virar um carro que seria sorteado num bingo com palavras de ordem como "O povo unido jamais será vencido". As cenas de vandalismo lembraram o quebra-quebra de três anos atrás, quando servidores protestaram contra a reforma da Previdência atacando o prédio da Câmara e quebrando vidraças.
Nas palavras do coordenador de policiamento da Câmara, Francisco José Dantas Pereira, "os sem terra foram passando por cima de todo mundo que encontravam pela frente". A segurança tentou impedir a entrada dos manifestantes por cerca de 12 minutos, até que foi vencida.
O primeiro-secretário da Câmara, Inocêncio Oliveira (PL-CE), chegou a cogitar pedir o reforço do Exército para controlar o quebra-quebra, mas voltou atrás, dizendo que, os seguranças da Casa conseguiriam conter os manifestantes, Apesar da confusão, a sessão não foi interrompida.
Acusações
Os líderes do movimento acusam a segurança da Câmara pelo quebra-quebra. Segundo um deles, Joaquim Ribeiro, a segurança não queria permitir a entrada de militantes que estavam usando bermuda e camisetas além de exigir que se cadastrassem.
- Nós não quebramos nada, tentaram impedir os trabalhadores de entrarem em sua Casa para fazer uma ação de cidadania popular. Não queremos quebrar nada nem bater em ninguém. Infelizmente nós viemos fazer um protesto e entregar uma pauta e queríamos entrar, mas infelizmente fomos impedidos de entrar nessa Casa do Povo. Eu tive que usar um traje como este para entrar - disse o líder sem-terra, reclamando do terno.
A militante Rosi, de 53 anos, filha de agricultores da Bahia, disse que o grupo veio a Brasília reivindicar apoio do governo.
- A gente não tem a terra. Quando consegue, não tem dinheiro, não tem nada - reclamou.
Ela disse que os sem-terra não pretendiam provocar quebra-quebra no Congresso nem ferir ninguém, mas que foram agredidos e começaram a revidar.
- Quando os companheiros vêem sangue de companheiro jorrando não tem como segurar, é a luta.
Aldo nega falha
Em entrevista à noite, Aldo negou que tenha havido falha na ação da segurança da Casa. Segundo o deputado, a segurança é preventiva para pequenos tumultos, portanto não pode ser comparada a um batalhão da Polícia Militar.
O presidente da Câmara ambém afirmou que os seguranças da Casa são orientados para agir primeiramente com o emprego do diálogo e da negociação. Para ele, isso faz com que, em determinadas circunstâncias, os problemas sejam resolvidos por meios civilizados.
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HISTÓRICO:
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