Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado adiou para o próximo dia 28 a votação da proposta de antecipação da maioridade penal para 16 anos, exclusivamente em casos de crime hediondo, tráfico de drogas ou tortura. O PT, atendendo pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez um pedido de vistas coletivo, e o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), presidente da comissão, determinou o adiamento para depois do carnaval.
- Não vamos jogar na universidade do crime parte desses jovens que estamos tentando punir e retirar da violência extremada - afirmou a jornalistas o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que defendeu a importância de mais debates sobre o tema.
- O senador Mercadante propõe endurecer o jogo para os maiores que usam os menores. Está certo. O que pergunto é no que isso invalida a redução (da maioridade) ? - questionou o senador Demóstenes Torres (PFL-GO), autor da proposta. - Hoje existem gangues compostas exclusivamente por menores. Tem quadrilha, como essa do Rio, em que menor comanda maior - disse o senador pefelista, defendendo a redução da maioridade penal.
Mercadante apresentará um voto em separado pela rejeição da matéria, propondo a ampliação do regime especial para menores infratores e endurecimento de penas para maiores de 18 anos que praticam crimes aliciando menores.
O adiamento da votação provocou irritação e um acalorado debate na comissão. No final, o consenso, inclusive na bancada governista do PMDB, era pela aprovação de uma emenda do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) que dá poderes ao Ministério Público e ao Conselho Tutelar de analisar, em casos excepcionais de comprovação da incapacidade de convivência social do menor criminoso, a necessidade de reduzir a maioridade para até menos de 16 anos.
Se aprovada, a proposta segue para o Senado, onde tem que ser aprovada em dois turnos. Depois, vai para a Câmara, onde tem que passar por duas comissões, processo que leva no mínimo três meses, para chegar ao plenário, onde também será votada em dois turnos.
Nesta quarta-feira, os líderes partidários decidiram reduzir de nove para três projetos o pacote de segurança pública que seria votado no plenário.
Renan: 'Discussão da maioridade penal é inevitável'
Mesmo contra o projeto de redução da maioridade penal, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), reconheceu nesta quarta-feira, em entrevista à rádio CBN, que "o debate é inevitável".
- Há um interesse grande de que essa questão seja discutida e que haja uma decisão do Senado sobre ela - afirmou o senador, durante entrevista à rádio CBN, na manhã desta quarta-feira. - A discussão tem que ser encarada com a seriedade e agilidade que a sociedade cobra. O que for preciso fazer para que isso aconteça, eu vou fazer - completou Renan.
Sem citar nomes, Renan criticou a declaração da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Ellen Gracie, de que o Congresso não deveria discutir mudanças na legislação após episódios de forte emoção, como a morte do menino João Hélio , de 6 anos, no Rio.
- As pessoas discutem que o Parlamento não poderia agir por impulso da sociedade. Claro que pode, e deve, porque o Parlamento é a caixa de ressonância da sociedade. Toda vez que acontece uma tragédia, é aqui que essas coisas repercutem e devem continuam repercutindo - afirmou.
Na sua opinião, o debate poderá levar não só à revisão do Código Penal, mas também a uma atualização do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Academia de Juristas condena redução da idade penal
O presidente da Academia Brasileira de Direito Constitucional, Flávio Pansieri condenou nesta quarta-feira a idéia de redução da maioridade.
- Colocar na cadeia adolescentes de 16 anos apenas vai retirar de circulação alguns indivíduos que, após cumprirem a pena, vão retornar para o convívio da sociedade piores do que quando entraram na prisão - disse.
Segundo Pansieri, a crise de segurança é reflexo da falta de investimentos de muitas décadas em projetos de inclusão social.
- O que é preciso é o governo incluir essa parcela da população no sistema social ,como, por exemplo, incentivar a ida às escolas em tempo integral nas comunidades carentes.
Entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e associações do Judiciário também pedem cautela na votação dos projetos de segurança que tramitam no Congresso.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Ataque de Israel em Beirute deixa ao menos 11 mortos; líder do Hezbollah era alvo
Deixe sua opinião