O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) admitiu, em depoimento ontem ao Conselho de Ética, que era o contraventor Carlinhos Cachoeira quem pagava as contas do aparelho Nextel que ganhou dele e no qual conversavam. A confissão de Demóstenes complicou ainda mais a sua situação política. O parlamentar está ameaçado de cassação por ter defendido, como senador, os interesses de Cachoeira.
O aparelho Nextel era considerado pela quadrilha do empresário como imune a grampos. Segundo investigações da Polícia Federal, o celular era entregue a poucas pessoas de confiança de Cachoeira, formando o que o grupo do contraventor chamava de "clube do Nextel".
Demóstenes afirmou que não aceitou o celular de Cachoeira para escapar de eventuais interceptações telefônicas. Para comprovar a afirmação, ressaltou que desde 1999, quando era secretário de Segurança Pública de Goiás, sabia que qualquer aparelho é passível de ser grampeado. Questionado pelo senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP), como pode um senador da República ganhar tal presente, respondeu: "o contexto é completamente outro. Isso não teve conotação de pagamento ou do quer que seja".
Ao fim da reunião, o relator do conselho, Humberto Costa (PT-PE), não quis fazer prejulgamento de Demóstenes, mas considerou que "não é usual" um parlamentar receber um telefone de um contraventor. "Se sabe exatamente que tipo de conduta é incompatível com a ética e a moral num trabalho de parlamentar e sem dúvida essa é uma questão que precisa ser muito bem analisada. Não é usual que um senador ou parlamentar conceda a uma pessoa claramente vinculada à contravenção a oportunidade de lhe presentear com um telefone", afirmou Costa.
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, minimizou o fato de seu cliente ter tido o aparelho pago por Cachoeira. Kakay, como é conhecido, disse que é "muito" cassá-lo pelo episódio e considerou que o depoimento do senador foi "extremamente positivo".
O relator disse que pretende votar até o final de junho o processo no conselho e, em plenário, antes do recesso parlamentar. O receio de Costa é de esvaziamento dos trabalhos em agosto, quando o Congresso entra em recesso branco por causa das eleições municipais.
Dito e não dito
O que Demóstenes Torres disse ao Conselho de Ética sobre seu envolvimento com Carlinhos Cachoeira e o que ficou sem resposta
Respostas
Articulador de Cachoeira
Demóstenes Torres rebateu as acusações de que teria atuado em favor de Cachoeira ou de que teria participação em negócios ilícitos conduzidos pelo empresário. Disse que enfrenta o "pior momento" da sua vida por ser vítima de uma "campanha sistemática orquestrada" para prejudicá-lo
Lobby no Legislativo
O senador negou ter agido em defesa dos interesses de Cachoeira no Congresso. Ele disse que os outros senadores são prova de que nunca defendeu a legalização dos jogos de azar.
Alerta sobre operação
Demóstenes foi flagrado em interceptações telefônicos avisando o grupo de Cachoeira de haveria operação policial e do Ministério Público de combate a caça-níqueis. Sobre isso, ele afirmou que fazia "testes" com o Cachoeira para confirmar se ele, como argumentava, havia deixado a ilegalidade
Pagamentos
Demóstentes negou ter recebido R$ 3,1 milhões de Cachoeira, como acusa o Ministério Público.
Delta
O senador também negou ser sócio oculto da empreiteira Delta, como acusou o procurador-geral da República Roberto Gurgel. O senador citou a entrevista de Fernando Cavendish publicada pela Folha de S.Paulo em que o empresário afirma que nunca o viu. "Como eu posso ser sócio de alguém que não conheço?", disse.
Nextel
Demóstenes reafirmou que recebeu um rádio Nextel de presente de Cachoeira, mas negou que falava exclusivamente com o empresário pelo rádio.
Encontro com Gilmar Mendes
Demóstenes disse que esteve em Praga, capital da República Tcheca em abril de 2011, onde encontrou Mendes. Ele ressaltou que o contato se limitou a uma viagem de trem entre Praga a Berlim e que viajou sozinho no avião cedido por Cachoeira a ele.
Sem resposta
Lobby no Executivo
O senador teria ajudado a abrir portas na Anvisa para representantes de laboratório controlado por Cachoeira.
Lobby no Ministério Público e no Judiciário
Após receber pedido de Cachoeira, Demóstenes diz que atuaria para promover a transferência de Mato Grosso do Sul para Goiás de policiais militares acusados de integrar grupo de extermínio
Cargos
Demóstenes teria acionado o senador Aécio Neves (PSDB-MG) para que uma prima de Cachoeira fosse contratada no governo de Minas Gerais.
Fonte: Folhapress
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